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América Latina
22/10/2025 07:00:00

Repercussões do Corte de Apoio Financeiro dos EUA à Colômbia e Seus Desdobramentos Políticos

Análise das consequências diplomáticas, de segurança e influências eleitorais na relação bilateral após decisão de interromper financiamento

Repercussões do Corte de Apoio Financeiro dos EUA à Colômbia e Seus Desdobramentos Políticos

A decisão do governo americano de suspender o aporte de recursos destinados ao combate ao narcotráfico na Colômbia acendeu um sinal de alerta nas relações diplomáticas entre os dois países, levando Bogotá a convocar seu embaixador em Washington como demonstração de desacordo.

Essa medida ocorre em meio a uma crescente tensão, que já inclui acusações mútuas e desacordos políticos de longa data. Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, afirmou que seu governo encerraria os bilhões de dólares destinados ao apoio na luta contra o tráfico de drogas no país sul-americano.

Em resposta, Gustavo Petro, presidente colombiano, criticou duramente o ex-aliado, chamando-o de 'grosseiro e ignorante', após Trump tê-lo acusado de ser um 'traficante' e de incentivar a produção de entorpecentes.

Essas afirmações marcaram o início de um clima de conflito público desde o início do mandato de Trump, que já tinha ameaçado aumentar tarifas comerciais e ordenado operações militares contra embarcações vinculadas ao narcotráfico na região do Caribe.

Apesar de Kevin Hassett, assessor econômico de Trump, ter declarado nesta segunda-feira (20/10) que os EUA não pretendem elevar tarifas sobre produtos colombianos, o governo de Petro interpreta o corte de ajuda como uma 'ameaça de invasão'.

Se essa verba, atualmente superior a 740 milhões de dólares (cerca de R$ 4 bilhões em 2023), for realmente interrompida, a colaboração de três décadas entre os sistemas de segurança, inteligência e forças policiais de ambos os países estaria ameaçada, segundo a analista sênior do International Crisis Group (ICG), Elizabeth Dickinson. A estimativa é que o impacto imediato seja um fortalecimento do narcotráfico na região.

Especialistas ressaltam que a dependência de Bogotá em relação aos recursos norte-americanos vai além de considerações econômicas, envolvendo segurança, ajuda humanitária e programas de desenvolvimento.

Além disso, cerca de metade do montante destinado à Colômbia é utilizado no combate ao tráfico de drogas, enquanto o restante é aplicado em iniciativas sociais. A retirada de apoio financeiro também pode prejudicar projetos de fortalecimento das instituições judiciais, alertou Luis Fernando Mejía, diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Social Fedesarrollo.

Para ele, a perda de recursos poderia atrasar projetos de crescimento e aumentar a incerteza tanto na esfera econômica quanto na diplomática. Em setembro, Trump já havia excluído a Colômbia da lista de países que combatem efetivamente o narcotráfico, além de revogar o visto presidencial colombiano.

Contudo, a postura beligerante arrefeceu temporariamente após Petro relatar uma reunião produtiva com o representante de negócios dos EUA, John McNamara, na qual ambos reafirmaram o compromisso de aprimorar estratégias de combate às drogas.

No cenário interno, a crescente violência na Colômbia preocupa especialistas como Víctor Mijares, da Universidade dos Andes. Em meio à crise de segurança, o país enfrenta uma escalada de conflitos envolvendo grupos guerrilheiros, com tensões também na fronteira com a Venezuela, onde a presença de organizações armadas é cada vez mais reforçada pelos EUA.

As dificuldades de implementação da política de 'paz total', de Petro, também têm sido alvo de críticas devido à lentidão na reintegração de ex-combatentes. A influência das ações de Trump na política colombiana traz um risco de desestabilização militar, pois um possível enfraquecimento das forças de segurança poderia abrir espaço para o fortalecimento de organizações criminosas e ameaçar os acordos de paz.

Analistas concordam que o vácuo de poder deixado pelo corte de recursos poderia ser explorado por grupos ilegais, prejudicando os esforços contra o narcotráfico. Além do impacto na segurança, a disputa política internacional também reverbera no cenário eleitoral de 2026 na Colômbia. Especialistas como Camilo González

Posso destacam que os sinais de contrabalanço da influência chinesa e o interesse americano na região alimentam uma narrativa de que o voto em Petro, primeiro líder de esquerda eleito no país, representaria uma postura anti-EUA.

Ambos os lados, por sua vez, tentam influenciar o resultado das próximas eleições por meio de declarações públicas e ações estratégicas, embora a polarização política dificulte uma reação unificada da sociedade civil. Mijares, da Universidade dos Andes, alerta que a reação da população diante do conflito entre as potências é imprevisível, dada a explosiva mistura de interesses e a comunicação instável de líderes como Trump e Petro, ambos altamente ativos nas redes sociais.

Assim, o cenário de tensões permanece incerto e potencialmente volátil, com consequências que podem afetar tanto a estabilidade regional quanto as relações internacionais do país.