Na recente sábado (18/10), uma equipe de trabalhadores de uma mineradora na Austrália encontrou fragmentos em chamas de um objeto desconhecido, localizado em uma estrada isolada do Deserto de Pilbara.
A condição do material, com sinais evidentes de recente combustão, levou as autoridades a iniciar uma investigação para determinar sua origem, com a hipótese principal de que se trate de partes de um foguete chinês.
Os pedaços fumegantes foram encontrados por funcionários da mineradora BHP, a aproximadamente 30 quilômetros a leste de Newman, em uma via de acesso limitada e distante, informaram os órgãos de fiscalização locais. A descoberta rapidamente chamou atenção de diversas instituições, incluindo a Polícia da Austrália Ocidental, a Agência Espacial Australiana e o Departamento de Bombeiros e Serviços de Emergência.
De acordo com uma matéria do jornal britânico The Guardian, análises preliminares indicam que o artefato, composto principalmente por fibra de carbono, possivelmente seja uma peça estrutural ou um tanque pressurizado de um foguete, normalmente utilizado para armazenar combustíveis ou gases sob alta pressão durante missões espaciais.
"O objeto permanece em investigação, embora suas características sejam compatíveis com detritos de reentrada de objetos espaciais conhecidos", declarou um porta-voz da polícia. "Engenheiros da Agência Espacial Australiana realizarão análises técnicas adicionais para identificar sua natureza e origem." O Departamento de Segurança de Transportes da Austrália confirmou que os detritos não têm relação com qualquer aeronave civil, reforçando assim a hipótese de uma origem extraterrestre.
Apesar de ainda não haver confirmação oficial, a especialista em exploração espacial Alice Gorman, ligada à Universidade Flinders, apontou que o design e o momento da descoberta coincidem com a quarta fase de um foguete chinês, o Jielong, lançado pela China no final de setembro.
Em entrevistas concedidas à ABC Radio Perth e ao The Guardian, Gorman explicou que, se essa hipótese for verdadeira, o foguete teria orbitado a Terra por semanas antes de sua queda, sugerindo uma reentrada descontrolada na atmosfera.
"Não houve indicações de que ele reentraria naquele instante, logo ninguém estava preparado para isso. Quando busquei previsões de reentrada, não encontrei nenhuma, o que demonstra o quão repentino foi o evento", afirmou a especialista. O superintendente Les Andrews, da Polícia da Austrália Ocidental, destacou que o processo de investigação pode durar várias semanas ou meses, sem que um país específico seja apontado como responsável até o momento. "Existem milhares de satélites ao redor do planeta, muitos deles de origem desconhecida. Portanto, a origem do fragmento não é uma questão relevante atualmente", declarou Andrews à ABC News. A ocorrência na Austrália não é inédita: em julho de 2023, um pedaço de um foguete indiano foi localizado em Green Head, a cerca de 250 quilômetros ao norte de Perth, e recebeu atenção internacional compatível com a descoberta atual.
Gorman alertou que o aumento na quantidade de detritos no espaço aumenta os riscos para a segurança e os desafios no gerenciamento de reentradas não controladas. "Vivemos em um mundo onde é fundamental monitorar o que há no céu, pois o tráfego espacial está cada vez mais lotado", alertou.
Ela também defendeu que todos os lançadores de foguetes deveriam implementar planos de gerenciamento de fim de vida de suas naves, preferencialmente com reentradas controladas na área conhecida como Ponto Nemo, um local remoto no sudoeste do Oceano Pacífico, onde muitas naves são inutilizadas.
Segundo Gorman, esses veículos deveriam ser projetados com materiais capazes de se queimar completamente na atmosfera, mesmo em reentradas não controladas. Contudo, ela explicou que tanques de combustíveis feitos de ligas resistentes, como titânio ou aço inoxidável, revestidos com fibra de carbono, suportam temperaturas elevadíssimas, dificultando sua total queima. As autoridades locais asseguram que o fragmento recuperado na Pilbara não representa qualquer risco à segurança pública.
A Agência Espacial Australiana recomenda que, ao encontrar objetos suspeitos de serem lixo espacial, as pessoas evitem manuseá-los, visto que podem conter substâncias tóxicas ou sob pressão. A orientação é acionar imediatamente os serviços de emergência para uma avaliação especializada.