Segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (17), o uso de plataformas digitais para trabalho no Brasil atingiu 1,7 milhão de pessoas no terceiro trimestre de 2024, representando um incremento de 25,4% em comparação a 2022, quando o número era de 1,3 milhão.
Essa quantidade corresponde a 1,9% da força de trabalho no setor privado do país. A maior parcela desses profissionais atua no transporte de passageiros, incluindo motoristas de táxis e aplicativos de transporte particular, somando 58,3% (964 mil). Já os trabalhadores que realizam entregas de alimentos e mercadorias representam 29,3% (485 mil).
Os serviços gerais ou especializados totalizam 17,8%, com um crescimento expressivo de 52,1% em dois anos, passando de 193 mil para 294 mil indivíduos. Em relação à remuneração, o rendimento médio dos profissionais que dependem de plataformas chega a R$ 2.996 mensais, valor superior aos R$ 2.875 de trabalhadores não ligados às plataformas.
Contudo, suas tarifas por hora são menores (R$ 15,4 contra R$ 16,8), pois enfrentam jornadas mais extensas, com uma média de 44,8 horas semanais, enquanto os demais registram 39,3 horas. A informalidade é um desafio adicional: em 2024, 71,1% dos trabalhadores de plataformas atuavam sem registro formal, enquanto entre os demais esse índice era de 43,8%.
Além disso, apenas 35,9% contribuíam para aposentadoria, ante 61,9% dos trabalhadores não plataformizados. O perfil demográfico mostra que a maioria é composta por homens (83,9%) e a faixa etária predominante é entre 25 e 39 anos (47,3%).
Quanto à escolaridade, 59,3% possuem ensino médio completo ou educação superior incompleta, enquanto 9,3% não concluíram o ensino fundamental. Entre os entregadores de aplicativos, 60% possuem nível médio completo, trabalham cerca de 46,4 horas semanais e ganham em média R$ 2.340.
Em contrapartida, profissionais que utilizam plataformas para captar clientes ou ofertar serviços obtêm quase o dobro, com salário de R$ 4.615, com uma jornada semelhante. Os motoristas de aplicativos representam 43,8% do total de motoristas no país, apresentando uma média salarial de R$ 2.766 — superior aos R$ 2.425 dos não plataformizados.
Ainda assim, eles enfrentam jornadas mais longas (45,9 horas versus 40,9 horas) e alta taxa de informalidade, que atinge 83,6%. Quanto aos motociclistas, cerca de um terço atua por plataformas digitais, recebendo uma média de R$ 2.119, contra R$ 1.653 entre os não associados, embora tenham cobertura previdenciária reduzida (21,6%). Apesar da flexibilidade oferecida, esses trabalhadores dependem das condições impostas pelas plataformas, com preços, incentivos e prazos de pagamento influenciando sua rotina. Mais de 70% dos entregadores afirmam que o pagamento, bônus ou promoções são determinados pelos aplicativos, enquanto uma parcela superior a 30% relatou ameaças de punições ou bloqueios.
De acordo com Gustavo Geaquinto, analista responsável pelo estudo, a expansão do trabalho digital indica uma diversificação maior nas ocupações e nos serviços oferecidos por plataformas, embora esses setores ainda representem menos de 20% dos trabalhadores ativados na economia digital.
Este relatório integra o módulo do IBGE chamado 'Trabalho por meio de plataformas digitais 2024', uma parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho, que examina o perfil, renda, jornada e condições de trabalho dos brasileiros atuantes nesse mercado.