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Economia
07/10/2025 02:00:00

Tarifas de Trump provocam reação e redesenham o comércio global do aço

Tarifas de Trump provocam reação e redesenham o comércio global do aço

As tarifas impostas pelos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump estão transformando o cenário mundial do comércio de aço. Diante das taxas de até 50% sobre o produto importado, México, Canadá e Brasil estão adotando medidas para fortalecer o consumo interno e reduzir a dependência das exportações para o mercado americano — uma estratégia que também dificulta a entrada do aço chinês em seus mercados.

O México anunciou o aumento das tarifas sobre produtos chineses, inclusive o aço, também em até 50%. O Canadá seguiu com restrições próprias, enquanto siderúrgicas brasileiras pressionam o governo por mais barreiras comerciais. Juntos, os três países foram responsáveis por quase 40% das importações americanas de aço em julho. Segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, a prioridade é “recuperar o terço do mercado perdido para importações predatórias”. Atualmente, 65% do aço importado pelo Brasil vem da China.

A resposta chinesa veio rapidamente: Pequim abriu uma investigação sobre as medidas mexicanas, com prazo inicial de seis meses. Apesar disso, a ofensiva latino-americana pode fortalecer a posição de negociação com Washington, já que as tarifas americanas não só afetam os vizinhos do norte e do sul, mas também fazem parte da guerra comercial mais ampla dos EUA contra a China.

O aço chinês representou mais da metade da produção global no último ano, e a guinada protecionista das Américas marca uma ruptura nas décadas de integração econômica regional. Mesmo assim, analistas avaliam que Trump não deve recuar, sustentando que as tarifas são fundamentais para proteger a segurança nacional e reforçar a indústria siderúrgica americana.

Desde a adoção das taxas, as exportações de aço do Canadá e do Brasil para os EUA caíram 45% e 27%, respectivamente. O México, ainda com estoques acumulados, registrou aumento temporário de 50% nos embarques, mas a tendência é de queda. O impacto já se reflete em cancelamentos de investimentos, redução da produção e demissões. No México, cerca de US$ 750 milhões em projetos foram suspensos e 4.000 empregos diretos desapareceram no primeiro semestre do ano.

Empresas como a Algoma Steel, do Canadá, e a Gerdau, do Brasil, interromperam planos de expansão e exportações. A Algoma suspendeu embarques para os EUA, que representavam 60% de seus negócios, e busca apoio financeiro do governo canadense. Já a Gerdau cancelou um investimento de US$ 600 milhões em uma nova planta no México. O setor canadense cortou cerca de mil empregos, enquanto a ArcelorMittal, que opera no Brasil, avalia adiar projetos diante da incerteza.

O Canadá elevou tarifas sobre o aço chinês para 25% e endureceu cotas tarifárias, além de impor sobretaxas sobre produtos fabricados fora dos EUA com aço de origem chinesa. O governo também criou incentivos de C$ 1 bilhão para modernizar a indústria e obrigou empresas contratadas pelo Estado a comprar aço nacional.

O Brasil, por sua vez, analisa a aplicação de medidas antidumping sobre 25 categorias de produtos chineses e adotou cotas de importação. Entretanto, a indústria considera as ações insuficientes para conter a pressão externa. Jorge Oliveira, executivo da ArcelorMittal no Brasil, afirmou que a persistência das importações poderá adiar investimentos.

A tensão comercial se soma ao desgaste diplomático entre Brasília e Washington. As tarifas impostas por Trump a produtos brasileiros paralisaram as negociações bilaterais e reduziram a interlocução entre os dois governos. Para Marco Polo de Mello Lopes, do Instituto Aço Brasil, o diálogo só voltará a avançar quando o clima político melhorar.

Empresários canadenses também alertam para um cenário crítico. Barry Zekelman, CEO da Zekelman Industries, afirmou que as siderúrgicas do Canadá “não sobreviverão” se as políticas americanas forem mantidas. “Elas vão fechar as portas se isso continuar”, declarou.

Enquanto os Estados Unidos mantêm sua postura de defesa da indústria doméstica, as medidas de retaliação e proteção adotadas pelos países das Américas estão redesenhando o mapa global do aço — e sinalizam o fim de um ciclo de livre comércio que marcou as últimas décadas.