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Saúde
01/10/2025 02:00:00

Estudo global relaciona consumo de álcool a riscos para a saúde mental

Estudo global relaciona consumo de álcool a riscos para a saúde mental

Estudo global relaciona consumo de álcool a riscos para a saúde mental

Um levantamento feito por pesquisadores canadenses, reunindo dados de 13 pesquisas anteriores em 101 países, reforça os impactos nocivos do álcool na saúde mental e sua ligação com casos graves de autoagressão. O trabalho mostra que cada litro a mais no consumo médio de álcool está associado a um aumento de 3,59% na taxa de suicídios por 100 mil habitantes, segundo publicação em uma das revistas da Associação Médica Americana.

O estudo conclui que mortes relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas podem ser prevenidas com ações conjuntas em nível individual e coletivo, e sugere que os dados devem orientar políticas públicas de prevenção.

Especialistas apontam que o problema vai além da dependência química. A psiquiatra Alessandra Diehl, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, explica que o álcool pode agir como desencadeador em tentativas de suicídio. Já a diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria, Miriam Gorender, alerta que, por ser um depressor do sistema nervoso central, o álcool agrava quadros de depressão e deixa sequelas no funcionamento cerebral.

Apesar disso, muitos usuários são levados a erro pelo efeito inicial de relaxamento, sem perceber os danos de médio e longo prazo.

Histórias de superação

Relatos de pessoas que enfrentaram problemas com álcool revelam como o consumo impacta diretamente a saúde mental. Luciana*, diagnosticada com TDAH, usava a bebida para aliviar sintomas, mas percebeu piora acentuada da depressão e ideação suicida. Após tratamento adequado, abandonou o hábito e relata melhora significativa. Gabriela*, por sua vez, descobriu ter transtorno bipolar tipo 2 e optou pela abstinência total ao compreender os efeitos do álcool em sua vida. Já Adriana* passou anos tentando equilibrar sobriedade e consumo social, mostrando como fatores culturais dificultam mudanças.

Ajuda e acolhimento

Profissionais reforçam que pessoas em sofrimento devem buscar apoio em serviços de saúde, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde. Em emergências, o atendimento pode ser feito nas UPAs, hospitais ou pelo SAMU (192). O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece suporte emocional gratuito pelo telefone 188 ou no site cvv.org.br.

Redução de danos e políticas públicas

De acordo com a psicóloga Maria Carolina Roseiro, a forte presença do álcool nas interações sociais dificulta escolhas mais saudáveis. Por isso, o Conselho Federal de Psicologia defende a redução de danos como alternativa ao modelo de abstinência obrigatória, ampliando a possibilidade de acolher pessoas que não conseguem ou não desejam parar totalmente de beber.

A Organização Mundial da Saúde estima que, em 2019, o álcool tenha sido responsável por 18% das mortes autoprovocadas no mundo — mais de 203 mil pessoas. No Brasil, a média de consumo foi de 7,7 litros por pessoa, acima da média mundial de 5,5 litros, e mais de 20% dos adultos relataram uso abusivo em 2023.

O país pretende reduzir esse índice para 17% até 2030, mas especialistas afirmam que o desafio passa pela regulação da indústria do álcool e por políticas mais rigorosas. Alessandra Diehl lembra que a publicidade de cerveja, por exemplo, ainda ocupa grande espaço na TV. Miriam Gorender cita a experiência da Rússia, que conseguiu reduzir o consumo e as taxas de suicídio por meio de aumento de impostos e restrições à propaganda, mas viu os números crescerem novamente após o fim da campanha.

As especialistas reforçam que é urgente controlar o acesso de adolescentes às bebidas, já que, mesmo proibida por lei, a venda ainda ocorre com facilidade no Brasil, prejudicando um período decisivo do desenvolvimento cerebral.