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Acidente
19/09/2025 00:00:00

Autoridades dos EUA discutem potencial classificação do movimento Antifa como grupo terrorista

Declarações de Trump e debates legais levantam dúvidas sobre a viabilidade da medida

Autoridades dos EUA discutem potencial classificação do movimento Antifa como grupo terrorista

Nos últimos dias, Donald Trump anunciou planos de rotular o movimento Antifa nos Estados Unidos como uma organização terrorista, uma decisão que gera polêmica e questionamentos jurídicos. 

declaração foi feita nesta quinta-feira através de sua plataforma Truth Social, na qual o ex-presidente descreveu a Antifa como um "fenômeno destrutivo, perigoso e radical de esquerda". Trump também prometeu que recomendaria uma investigação aprofundada sobre os financiadores do grupo, que, segundo ele, contribuem para a sua atuação.

O termo Antifa, abreviação de "antifascistas", representa um amplo conjunto de ativistas de esquerda radical, sem uma estrutura formal única, e costuma ser visto mais como um movimento difuso de manifestantes e militantes. A proposta de Trump surgiu após a morte do ativista conservador Charlie Kirk, ocorrida em 10 de setembro.

Apesar de nenhuma evidência apontar ligação do suspeito do crime, Tyler Robinson, com qualquer grupo, o próprio ex-presidente e altos oficiais do seu governo culparam grupos de esquerda por criar um ambiente hostil a conservadores antes do ocorrido. Críticos acusam Trump de usar o assassinato como justificativa para reprimir adversários políticos, enquanto especialistas alertam que a tentativa de classificar a Antifa como uma organização terrorista carece de base legal.

A ausência de uma hierarquia clara, de uma liderança definida ou de uma lista de membros dificulta a implementação dessa medida. Apesar disso, Trump afirma que a Casa Branca se prepara para enquadrar o movimento nessa classificação, o que permitiria expulsar estrangeiros ligados ao grupo, além de possibilitar ações contra financiadores e confisco de recursos.

Por sua vez, autoridades como Christopher Wray, diretor do FBI durante o primeiro mandato de Trump, reiteraram que a Antifa é mais uma ideologia do que uma organização estruturada, dificultando qualquer tentativa de enquadramento legal. Pesquisadores, como Luke Baumgartner, da Universidade de George Washington, reforçam que não há mecanismos legais claros para tal declaração, e que, sem ações concretas do Congresso, a proposta dificilmente avançará.

Para o professor David Schanzer, da Universidade de Duke, a Primeira Emenda garante o direito à liberdade de expressão e de associação, limitando a capacidade do governo de atuar contra grupos sem estrutura formal ou que não tenham cometido crimes específicos. A preocupação é que a falta de uma organização centralizada facilite ações arbitrárias. A origem do movimento remonta às ações antifascistas dos anos 1920 e 1930 na Europa, com o termo “Antifa” vindo do alemão antifaschistisch, que significa antifascista.

os Estados Unidos, sua história moderna começa na década de 1980, com grupos que enfrentavam skinheads neonazistas em eventos punk no Midwest. Após um período de declínio, o movimento ressurgiu com força em 2016, durante a ascensão de Donald Trump, e desde então tem se confrontado com grupos de direita radical, manifestações e ações policiais.

Táticas utilizadas pela Antifa incluem protestos tradicionais, como marchas e manifestações, além de estratégias mais agressivas, como ataques a propriedades ou confrontos físicos. Em 2017, membros mascarados participaram de agressões a apoiadores de movimentos de direita em Berkeley, na Califórnia, e em 2020, um militante da Antifa matou um simpatizante do Patriot Prayer após confrontos nos protestos por George Floyd. 

movimento também atua digitalmente, monitorando redes sociais de grupos de direita e divulgando informações pessoais de opositores. Após o assassinato de Kirk, alguns membros autodenominados da Antifa no Reddit e no X compartilharam apoio ao ataque, evidenciando uma vertente mais extremista.

Seus integrantes frequentemente usam roupas escuras e capacetes, carregando armas brancas, sprays de pimenta, pedras e correntes. A ausência de uma liderança centralizada faz com que células do movimento operem de forma autônoma, tanto online quanto presencialmente.

Entre seus apoiadores encontram-se indivíduos com ideologias anarquistas, comunistas e socialistas radicais, todos com posições contrárias ao governo, ao capitalismo, e apoiadores de causas progressistas como direitos LGBTQ+ e imigração. O termo Antifa, muitas vezes, é utilizado por políticos conservadores para rotular diversos grupos de esquerda que se opõem às suas posições, mesmo que nem todos tenham ligação direta com o movimento antifascista.

Quanto à classificação como organização terrorista, a possibilidade permanece incerta. O governo de Trump não detalhou como pretende aplicar essa medida a um movimento descentralizado, sem estrutura hierárquica definida.

Além disso, o movimento não está na lista de organizações terroristas estrangeiras do Departamento de Estado, que inclui grupos como Estado Islâmico, Al Qaeda e várias gangues latino-americanas. Especialistas jurídicos, como Luke Baumgartner, argumentam que não há mecanismos legais claros para declarar a Antifa como terrorista, e que a legislação atual protege a liberdade de expressão e associação, dificultando a ação do governo.

O professor David Schanzer reforça que a Primeira Emenda garante esses direitos, e que qualquer tentativa de repressão sem base criminal concreta pode ser considerada inconstitucional. Já o professor Brad Evans alerta que a falta de uma estrutura formal na Antifa pode ampliar o poder estatal de intervenção, pois qualquer pessoa suspeita de ligação ao movimento precisaria provar o contrário. Além disso, alguns juristas questionam se a legislação vigente, que trata de crimes como incitação à violência, poderia ser utilizada para ações contra o movimento. 

anúncio de Trump faz parte de uma estratégia maior contra o que ele denomina "esquerda radical", após o episódio de Charlie Kirk. O governador alega que a violência política de grupos de esquerda prejudicou pessoas inocentes e resultou em perdas de vidas, enquanto as autoridades confirmaram que Tyler Robinson tinha uma ideologia de esquerda, embora sem conexão direta com a Antifa.

Estudos independentes indicam que, nas últimas décadas, a violência política de direita tem sido mais frequente do que a de esquerda. Recentemente, o Departamento de Justiça eliminou um estudo de 2024 que concluiu que o extremismo de direita superava outros tipos de violência política nos EUA. A BBC questionou o motivo da retirada, mas o departamento não respondeu.

Analistas advertem que, devido à falta de definições rígidas de "direita" e "esquerda", é difícil mensurar com precisão o comportamento violento ao longo do tempo. Pesquisadores como Robert Pape indicam que há um aumento nos casos de assassinatos políticos de ambos os lados, e que a responsabilização de líderes políticos por retóricas agressivas tende a aumentar o apoio à violência.