No dia 16 de setembro, completam-se seis semanas e duas semanas desde o início da imposição do tarifamento que prejudicou aproximadamente 9.700 produtos brasileiros. A informação foi divulgada na última sexta-feira (12) pelo governo federal, por meio de uma lista baseada na classificação da Nomenclatura Comum do Mercosul.
Essa relação detalha os itens afetados pela sobretaxa de 50% aplicada por Donald Trump, que tem impactado duramente o comércio bilateral. A primeira seção do documento apresenta 9.075 códigos de produtos considerados automaticamente na contabilização dos valores das exportações aos EUA. A segunda parte inclui 702 códigos que dependem de autodeclaração das empresas, que precisam comprovar que suas exportações sofreram prejuízos decorrentes da tarifa. Essa lista visa identificar setores que podem se beneficiar de linhas de crédito especiais estabelecidas pelo Plano Brasil Soberano, lançado recentemente.
O programa oferece recursos do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), totalizando R$ 40 bilhões para auxílio emergencial, com expectativa de início de uso na segunda metade de setembro. A crise comercial atual também ocorre em meio ao receio de novas sanções econômicas, após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a mais de 27 anos de prisão. A penalidade, que tem caráter político, foi admitida por autoridades americanas e agravou a tensão entre os dois países. Em entrevista à emissora Fox News, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que “uma resposta será dada” e que novas ações deverão ser anunciadas na próxima semana.
Além disso, o Conselho Federal de Economia (Cofecon) emitiu nota categorizando as ações dos Estados Unidos contra o Brasil como “descabidas e inaceitáveis”, tanto na esfera política quanto na comercial. A autarquia dos economistas brasileiros afirmou que há evidências de tentativas de ingerência política por parte de Donald Trump nos assuntos internos do país. Ressaltou também que a soberania brasileira, assim como a independência dos Poderes, a liberdade de expressão e de cátedra, são inegociáveis.
O órgão destacou ainda que a balança comercial do Brasil com os Estados Unidos apresenta déficits constantes. Segundo o Cofecon, as alegadas “distorções de comércio” não se aplicam ao país, que além do déficit, possui uma balança de pagamentos de serviços (marcas, patentes e royalties) favorável aos americanos.
Apesar do conflito diplomático prolongado nesses 40 dias, pouco se alterou na composição das tarifas desde 6 de agosto, embora já seja possível perceber efeitos na economia. Produtos estratégicos como aeronaves, componentes, combustíveis e celulose foram excluídos da tarifa após decisão da Agência de Comércio dos EUA (USTR). No entanto, itens como carnes, cafés e pescados continuam sob sobretaxas, gerando incertezas quanto às exportações para o mercado norte-americano. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) e da Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham Brasil) indicam que as exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 26,6 bilhões no período de janeiro a agosto deste ano, representando um aumento de 1,6% em relação ao mesmo intervalo de 2024 e marcando um recorde histórico para esse período.
Por outro lado, as vendas em agosto sofreram uma redução de 18,5%. Os produtos sujeitos à tarifa de 50% tiveram uma diminuição de 22,4%, contribuindo para a queda geral das exportações.
Produtos que não foram impactados, por sua vez, apresentaram uma redução mais moderada de 7,1% no mês e de 10,3% ao longo do ano. A alegação de que o Brasil seria um “péssimo parceiro comercial”, como Donald Trump afirmou em carta enviada ao governo brasileiro na época da imposição das tarifas, foi desmentida pelos dados do último mês.
Enquanto o déficit dos EUA com o mundo cresceu 22,4% no acumulado do ano, atingindo US$ 809,3 bilhões, o superavit do Brasil com os americanos atingiu US$ 3,4 bilhões, uma alta de 355% no mesmo período.