20/09/2025 20:57:04

Acidente
15/09/2025 12:00:00

Estudo global revela que a obesidade infantil agora supera a desnutrição pela primeira vez na história

Relatório da UNICEF aponta para aumento alarmante de crianças e adolescentes com excesso de peso em mais de 190 países

Estudo global revela que a obesidade infantil agora supera a desnutrição pela primeira vez na história

Agência Brasil

De acordo com um levantamento da UNICEF, cerca de 20% das crianças e jovens em todo o planeta estão com peso superior ao saudável, totalizando aproximadamente 391 milhões de indivíduos. Desse total, quase metade - cerca de 188 milhões - sofre de obesidade, marcando uma mudança histórica: pela primeira vez, o excesso de peso severo ultrapassa a desnutrição como a principal forma de má nutrição infantil.

O estudo, que abrange dados de mais de 190 países, revela que a incidência de desnutrição em menores de 5 a 19 anos diminuiu de quase 13% para 9,2% entre 2000 e 2025. Em contrapartida, os índices de obesidade cresceram de 3% para 9,4% no mesmo período. Os únicos locais onde a desnutrição ainda supera a obesidade são a África Subsaariana e o Sul da Ásia.

Já no Brasil, essa tendência é perceptível há várias décadas. Em 2000, 5% das crianças e adolescentes apresentavam obesidade, enquanto a desnutrição atingia 4%. Até 2022, o índice de excesso de peso triplicou e chegou a 15%, enquanto a desnutrição caiu para 3%. Além disso, a porcentagem de pessoas com sobrepeso dobrou, passando de 18% para 36%.

O relatório também indica que países insulares do Pacífico possuem as maiores taxas de obesidade infantil, chegando a 30%. Segundo a UNICEF, essa realidade é impulsionada principalmente pela substituição da alimentação tradicional por produtos ultraprocessados, que são mais acessíveis financeiramente.

Preocupações semelhantes surgem em nações de alta renda, onde os números também crescem. No Chile, 27% das jovens entre 5 e 19 anos vivem com excesso de peso, enquanto nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes Unidos, essa proporção chega a 21%, ou seja, dois de cada dez jovens.

Para Catherine Russell, diretora executiva da UNICEF, a obesidade infantil é uma questão que vem crescendo e ameaça o bem-estar dos jovens. Ela ressalta que alimentos ultraprocessados vêm substituindo frutas, verduras e proteínas essenciais ao crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde mental das crianças.

A organização denuncia que a causa dessa mudança não está ligada a escolhas individuais, mas sim a ambientes alimentares prejudiciais, que favorecem o consumo de alimentos altamente processados e fast foods, ricos em açúcar, sal, gorduras nocivas e aditivos.

Esses produtos dominam supermercados, escolas e ainda contam com uma forte presença no marketing digital direcionado ao público jovem, alerta o documento.

Além disso, enquanto a desnutrição permanece uma preocupação significativa entre crianças menores de cinco anos em países de baixa e média renda, o excesso de peso é mais comum em escolares e adolescentes, aumentando o risco de desenvolver resistência à insulina, hipertensão e doenças graves ao longo da vida, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e certos cânceres.

O estudo estima que, se os países não adotarem medidas preventivas contra a obesidade infantil, poderão enfrentar impactos econômicos substanciais, devido às consequências na saúde pública. A previsão indica que, até 2035, os custos globais associados ao sobrepeso e à obesidade podem ultrapassar US$ 4 trilhões anuais.

Por outro lado, nações como o Brasil figuram como exemplos positivos ao implementar ações como a restrição progressiva na aquisição de ultraprocessados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a proibição de publicidade de alimentos não saudáveis para crianças, a implementação de rotulagem frontal que destaca ingredientes prejudiciais, além da vedação do uso de gorduras trans na produção alimentícia.