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Acidente
14/09/2025 09:00:00

Aumento no Uso de Antidepressivos no Brasil Reflete Mudanças na Percepção da Saúde Mental

Dados recentes apontam para crescimento no consumo de medicamentos psicoativos e uma transformação cultural na abordagem do sofrimento psicológico

Aumento no Uso de Antidepressivos no Brasil Reflete Mudanças na Percepção da Saúde Mental

De acordo com um levantamento realizado pela Funcional Health Tech, a utilização de medicamentos antidepressivos entre adultos de 29 a 58 anos no Brasil registrou uma elevação de 12,4%. A pesquisa, que analisou informações de mais de 2,5 milhões de usuários do Benefício Farmácia, comparou os períodos de junho de 2023 a maio de 2024 com o intervalo de junho de 2024 a maio de 2025.

Os resultados evidenciam uma tendência constante: atualmente, os antidepressivos ocupam a segunda colocação na lista dos medicamentos mais consumidos no país, ficando atrás apenas dos antibióticos. Simultaneamente, o consumo de ansiolíticos apresentou uma redução de 10,6% nesse mesmo período, indicando uma mudança tanto nos padrões de prescrição quanto na maneira como pacientes e profissionais de saúde abordam o tratamento da saúde mental. Essa tendência não é um fenômeno isolado.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), conduzida pelo IBGE, revela que 10,2% dos adultos brasileiros já receberam diagnóstico médico de depressão, e quase metade desses indivíduos (48%) fazem uso de antidepressivos. Tais dados reforçam a percepção de que o país passa por uma transformação no modo de lidar com o sofrimento psicológico. Segundo o especialista Alexandre Vieira, diretor clínico da Funcional Health Tech, os números refletem não só os efeitos de um estilo de vida marcado por jornadas exaustivas, estresse, violência urbana e instabilidade econômica, mas também uma mudança cultural significativa

. "Falar sobre saúde mental e procurar ajuda deixou de ser um tabu para parte da população. Esse crescimento demonstra uma sociedade mais consciente da importância de cuidar da mente, assim como do corpo", explica. O psiquiatra de Arapiraca, Danilo Bastos, complementa essa avaliação, destacando que os dados positivos podem ser interpretados sob duas perspectivas distintas: - Por um lado, representam avanços na compreensão dos transtornos mentais, na redução do estigma e na ampliação do acesso ao tratamento.

- Por outro, sinalizam o aumento do sofrimento coletivo, agravado por fatores como a pandemia, as pressões no ambiente de trabalho e as desigualdades sociais. Bastos ainda ressalta que os antidepressivos não se limitam ao tratamento da depressão, também sendo utilizados contra ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.

Assim, o crescimento no consumo pode indicar uma maior procura por tratamentos adequados, e não um aumento de uso indevido ou excessivo. Em relação às recomendações clínicas, o Dr. Danilo Bastos alerta para a importância do uso criterioso dessas medicações. Ele observa um aumento na procura por ajuda desde o período pandêmico, com queixas de ansiedade, humor deprimido e dificuldades no sono.

Além disso, enfatiza a necessidade de atenção à qualidade da prescrição, à dosagem, à duração do tratamento e ao acompanhamento médico adequado. Bastos também alerta para os riscos de medicalizar lutos e tristezas normais, de interromper medicamentos abruptamente e da polifarmácia, especialmente no uso prolongado de benzodiazepínicos.

Outro ponto relevante é a crescente preferência pela medicalização em detrimento de terapias complementares. Pesquisas apontam que o consumo de psicofármacos aumentou 18,6% nos últimos dois anos no Brasil, sendo que 74% desse incremento é composto por antidepressivos. Esse cenário evidencia tanto o avanço no diagnóstico quanto a insuficiência de políticas públicas que promovam acesso à psicoterapia, acompanhamento multidisciplinar e suporte comunitário. Como resultado, a medicação muitas vezes surge como a solução mais rápida e acessível.

O aumento no uso de antidepressivos reflete uma sociedade em transformação: mais aberta ao diálogo sobre saúde mental, mas também mais exposta a fatores de risco que elevam o sofrimento psicológico. Quando bem indicada, a medicalização oferece acesso a tratamentos e melhora a qualidade de vida. No entanto, seu uso excessivo pode simplificar demais a complexidade da saúde mental, reduzindo o problema a uma simples prescrição. Para o psiquiatra Danilo Bastos, o caminho para o futuro deve envolver uma combinação de estratégias.

Além do uso de medicamentos, é fundamental promover psicoterapia, higiene do sono, prática de atividades físicas e fortalecimento do suporte social. Ele destaca que o aumento no consumo de antidepressivos, por si só, não é um bom ou mau sinal, mas pode representar um tratamento mais adequado, desde que acompanhado de avaliações criteriosas, acompanhamento próximo e integração com outras formas de cuidado. Por fim, é imprescindível que o Brasil invista em políticas públicas que ampliem o acesso tanto a medicamentos quanto às redes de cuidado psicossocial, promovendo uma abordagem integral do ser humano.

Afinal, saúde mental não é apenas ausência de doença, mas a presença de bem-estar e condições sociais mais justas, garantindo uma qualidade de vida mais plena para todos.