A condenação de Jair Bolsonaro a uma pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de insurreição militar está dominando as manchetes de publicações ao redor do mundo nesta sexta-feira (12/9).
Na capa de diversos jornais e revistas internacionais, a notícia tem recebido ampla atenção, com destaque para a avaliação de que a sentença representa um marco na história do Brasil. A revista britânica The Economist qualificou a condenação como 'histórica', salientando o impacto do julgamento.
Segundo a publicação, o julgamento ocorreu após uma votação do Supremo Tribunal Federal (STF) na manhã de 11 de setembro, que levou à condenação do ex-presidente por golpe de Estado, seguida pela emissão da sentença de prisão.
O artigo também relembra uma promessa feita por Bolsonaro há quatro anos, quando ainda era presidente, na qual afirmou a líderes evangélicos que sua reeleição em 2022 só poderia terminar com sua prisão, morte ou vitória, e que 'a primeira opção não existe', frase que a revista aponta como equivocada.
O texto detalha ainda que o Brasil possui uma história marcada por diversos golpes militares desde sua independência em 1822, incluindo a ditadura de 1964 a 1985, responsável por centenas de mortes, e que Bolsonaro é um defensor fervoroso daquele regime.
Na análise do The Economist, a condenação é considerada uma ação 'histórica'.
O artigo também destaca a resposta do tribunal a defesas que alegaram que as ações individuais de Bolsonaro não constituíam golpe, embora as provas apresentadas tenham sido consideradas contundentes pelos juízes. A fala de Alexandre de Moraes, que alertou para o risco de o Brasil retornar a um regime autoritário, é citada como um ponto importante na decisão.
Além disso, a revista observa que o voto de Luiz Fux, a favor da absolvição de Bolsonaro, foi a única abertura para uma potencial reversão futura, embora essa possibilidade seja considerada remota devido à gravidade das acusações e às evidências apresentadas.
Internacionalmente, o jornal americano Wall Street Journal trouxe a perspectiva de que a sentença desafia os esforços do ex-presidente Donald Trump para desacreditar o processo, além de colocar em risco uma relação mais tensa entre Brasil e Estados Unidos após a condenação.
O periódico também noticia que Bolsonaro, atualmente com 70 anos, poderia passar o resto de sua vida na prisão, embora há um movimento no Congresso para aprovar uma anistia e que problemas de saúde possam reduzir sua pena. A reportagem aponta que a celebração foi grande no Brasil após a decisão da ministra Cármen Lúcia, que determinou a condenação de Bolsonaro, com manifestações de apoio às ruas.
Entretanto, o Wall Street Journal reforça que a opinião pública permanece altamente polarizada. Pesquisas recentes indicam que cerca de 51% dos brasileiros apoiaram a prisão domiciliar de Bolsonaro em 4 de agosto, enquanto 42% discordaram, além de 46% desejarem o impeachment de Moraes, contra 43% que apoiam o ministro.
O jornal destaca que a condenação alimenta o debate político, com críticos enxergando nela uma vitória para a democracia e uma punição legítima a um líder autoritário, enquanto apoiadores consideram o processo uma manobra para afastar Bolsonaro do poder, mantendo uma base de apoio significativa, incluindo empresários, agricultores e fiéis evangélicos.
Na avaliação do New York Times, a condenação representa um momento decisivo para a política latino-americana, marcando a primeira vez, em mais de 15 tentativas, que líderes ligados a conspirações militares são considerados culpados desde a derrubada da monarquia em 1889. A reportagem assinala que Bolsonaro, que inspirou um movimento de direita que polarizou e conservou parte do país, perdeu sua principal liderança, mas sua influência ainda persiste.
O periódico também alerta que a decisão pode aumentar as tensões entre Brasil e Estados Unidos, uma vez que Bolsonaro depositou esperanças em uma intervenção do ex-presidente Trump, esperando um 'milagre'.
Por sua vez, o jornal britânico The Guardian afirma que a condenação não representa o fim do bolsonarismo. Apesar do veredicto histórico, que o considera culpado de tentar derrubar a democracia, a expectativa é de que o movimento político, conhecido como bolsonarismo, continue forte mesmo após a prisão do ex-líder.
Especialistas e políticos de diversas correntes concordam que o partido de Bolsonaro poderá manter-se vivo, já que ele conquistou cerca de 58 milhões de votos na última eleição e ainda goza de popularidade entre diferentes segmentos da sociedade brasileira.
O Guardian estima que, nas próximas semanas, Bolsonaro provavelmente não será preso imediatamente, e que ainda há dúvidas se ele será encarcerado em uma prisão comum, policial ou militar. A publicação também ressalta que a atenção agora se volta para quem será o próximo político a herdar seus votos na corrida presidencial de 2024, incluindo nomes como o próprio filho, senador Flávio Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-capitão do Exército e ex-ministro da Infraestrutura durante o período de Bolsonaro.