Na terça-feira, 9 de outubro, a cotação do dólar subiu, fechando acima de R$ 5,43, mesmo apresentando uma leve queda em relação a outras moedas latino-americanas. O movimento ocorreu num dia de valorização de commodities como o minério de ferro e o petróleo. Especialistas afirmam que o cenário nacional permanece de cautela, alimentado pelas dúvidas sobre as consequências do processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde por tentativa de golpe de Estado perante o Supremo Tribunal Federal (STF).
Com baixa liquidez e oscilações inferiores a três centavos, variando entre R$ 5,4151 e R$ 5,4394, o dólar avançou 0,35%, atingindo o valor de R$ 5,4363. Após uma forte queda de 3,19% em agosto, a moeda registra uma alta de 0,26% em setembro. No acumulado do ano, a desvalorização chega a 12,04%.
Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, há receio de que novas penalidades possam ser impostas ao Brasil pela administração de Donald Trump, caso Bolsonaro seja condenado. Ele também destaca que a convocação virtual do bloco BRICS, realizada na última segunda-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumenta o temor de retaliações dos Estados Unidos, o que faz com que investidores adotem postura defensiva. "O mercado busca proteção, mantendo o dólar acima de R$ 5,40. A baixa liquidez demonstra a relutância em assumir riscos", comentou Galhardo.
O julgamento do processo foi conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que votou pela condenação de Bolsonaro e de sete réus, incluindo o general Braga Neto, vice na chapa de 2022, e Mario Cid, ex-assessor do Palácio do Planalto. O ministro Flávio Dino acompanhou Moraes, e o julgamento continuará na quarta-feira às 9 horas. Quanto à possibilidade de novas sanções, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que não há ações adicionais previstas no momento, mas reforçou que os Estados Unidos não hesitarão em usar seu poder econômico e militar para proteger a liberdade de expressão globalmente.
Helena Veronese, chefe de economia da B.Side Investimentos, comenta que o real pode se descolar das influências externas mais pelo receio de sanções de Trump do que pelo resultado do julgamento de Bolsonaro. Ela destaca que a taxa Selic elevada mantém atrativa a estratégia de carry trade, limitando a desvalorização da moeda brasileira. No cenário externo, o índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, mostrou uma alta moderada nesta terça-feira, recuperando parcialmente as perdas recentes, mesmo após dados de criação de empregos nos EUA terem vindo abaixo do esperado. Ao final do expediente, o Dollar Index subiu 0,35%, atingindo cerca de 97,813 pontos, próximo à máxima do dia.
O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos revisou para baixo a criação de 911 mil vagas até 2025, enquanto o secretário do Tesouro, Scott Bessent, voltou a criticar o Federal Reserve, afirmando que o ex-presidente Trump tem razão ao dizer que o banco central está freando o crescimento ao elevar juros. Os investidores aguardam dados de inflação ao atacado e ao consumidor nos próximos dias para ajustar suas apostas sobre possíveis cortes na política monetária. A expectativa geral é de que o Fed reduza a taxa básica pelo menos 25 pontos-base em 17 de setembro.
Helena Veronese projeta três cortes consecutivos de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Federal Reserve ainda neste ano, destacando indicadores que sugerem uma desaceleração na economia americana. Ela acrescenta que o cenário global ainda favorece um dólar fraco, influenciado pelo corte de juros do Fed e pelas próprias políticas econômicas de Trump. No curto prazo, o comportamento da moeda americana dependerá sobretudo de possíveis novas sanções por parte dos Estados Unidos.