A França amanhece nesta quarta-feira (10) sob expectativa de fortes mobilizações sociais, marcando a primeira grande onda de protestos do semestre. O movimento batizado de “Vamos bloquear tudo” promete afetar transportes, escolas e estradas, dois dias após a renúncia do primeiro-ministro François Bayrou e a escolha do direitista Sébastien Lecornu para substituí-lo.
Convocado por meio das redes sociais, o movimento é acompanhado de perto pelos serviços de inteligência franceses, que monitoram assembleias cidadãs e o engajamento digital para avaliar sua dimensão. O Ministério do Interior estima participação de até 100 mil pessoas em todo o país, com possíveis bloqueios de rodovias, pedágios, refinarias, depósitos de petróleo e ações contra caixas eletrônicos.
Embora não tenha sido articulado por partidos, a esquerda radical assumiu protagonismo na organização dos atos, com envolvimento de grupos como França Insubmissa, Novo Partido Anticapitalista, sindicatos, ativistas pró-Palestina e movimentos ambientalistas como Extinction Rebellion e Soulèvements de la Terre. As manifestações devem se concentrar em Paris, Nantes, Rennes, Toulouse, Lyon e Bordeaux.
No transporte, o impacto será variado. Estão previstas paralisações em linhas ferroviárias que ligam Paris a cidades como Clermont-Ferrand, Limoges, Toulouse e Bordeaux, além da rota Bordeaux-Marselha e dos trens noturnos. Na região da capital, a circulação do RER B, que conecta Paris aos aeroportos Charles de Gaulle e Orly, deve ser prejudicada, assim como parte do metrô e dos ônibus. A Direção Geral da Aviação Civil alertou para atrasos em todos os aeroportos franceses.
No setor educacional, sindicatos convocaram professores e funcionários a aderirem à greve, reforçando denúncias sobre a precariedade enfrentada por estudantes desde o início do governo Emmanuel Macron.
O Ministério do Interior mobilizou cerca de 80 mil agentes de segurança para impedir bloqueios de infraestruturas estratégicas, como portos, refinarias, aeroportos e centrais elétricas. O secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez, disse esperar “ações duras” e não descartou tentativas de sabotagem. Já o ministro dos Transportes, Philippe Tabarot, afirmou que haverá vigilância especial em locais de grande circulação, como a Gare du Nord, a estação mais movimentada da Europa.
Por outro lado, líderes sindicais acusam o governo de tentar deslegitimar o movimento. Sophie Binet, secretária-geral da CGT, disse que o discurso oficial busca retratar os manifestantes como violentos e desestimular a adesão popular.
Com risco de confrontos e bloqueios em todo o país, o 10 de setembro promete ser um dia de tensão e testar a força do novo governo diante da crescente insatisfação social.