20/09/2025 17:40:31

Educação
10/09/2025 18:00:00

Estudantes brasileiros enfrentam dificuldades com aluguel em Portugal

Estudantes brasileiros enfrentam dificuldades com aluguel em Portugal

Os preços do alojamento em Portugal têm pesado no bolso dos universitários brasileiros que buscam formação no país. A estudante Edlanea Ferreira, que se mudou para o Porto há três anos para cursar mestrado em Ciências Gastronômicas, lembra que ao chegar encontrou um quarto por 290 euros. Hoje, segundo ela, não se acha nada por menos de 400 euros.

Essa realidade é compartilhada por outros estudantes. Ayla Amaral chegou a Coimbra em 2024 para estudar Alimentação e, inicialmente, pagava 250 euros por mês em um quarto dividido. Agora, depois de muita procura, optou por um microapartamento de 400 euros, decisão que garante privacidade, mas compromete boa parte de sua renda.

Dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência apontam que mais de 18 mil brasileiros estão matriculados em universidades portuguesas, sendo que mais de 11 mil residem no país. O relatório mais recente do Observatório do Alojamento Estudantil mostra que, em julho de 2025, o valor médio de um quarto era de 415 euros, 5,5% acima do registrado no ano anterior. Em 2022, a média era de 275 euros.

Lisboa lidera com os preços mais altos, chegando a 714 euros em alguns bairros, enquanto o valor médio é de 500 euros. No Porto, a média é de 400 euros; em Braga, 323 euros; e em Coimbra, 280 euros. Com o salário mínimo nacional em 870 euros, os custos com moradia chegam a comprometer mais da metade da renda de um trabalhador.

O estudante Kaio Jesus, que cursa enfermagem em Coimbra, vive em residência universitária pagando 100 euros mensais por um quarto duplo, mas lembra que fora dela a situação é inviável. Mesmo assim, enfrenta despesas altas com mensalidade de 550 euros e outras contas, contando com ajuda da família e pequenos trabalhos para se sustentar.

Para muitos, o impacto é agravado pela diferença de tratamento entre estudantes locais e internacionais. Enquanto portugueses ou cidadãos da União Europeia pagam anuidades de 2.500 euros, alunos de países da CPLP desembolsam 3.835 euros, e outros estrangeiros até 4.550 euros. Essa diferença, explicam especialistas, está ligada ao processo de ingresso: nacionais concorrem via Exame Nacional Português e pagam taxas subsidiadas, enquanto internacionais ocupam vagas específicas, que permitem às universidades cobrar valores mais altos.

A procura crescente por imóveis, impulsionada também pelo turismo e pela chegada de migrantes, tem reduzido a oferta e elevado os preços. Para o presidente da Federação Acadêmica de Lisboa, Pedro Neto Monteiro, a alta dificulta a permanência de jovens de famílias com menor poder aquisitivo no ensino superior, tornando, em alguns casos, a frequência universitária inviável.

Lisandra Gonzaga, que chegou recentemente ao Porto para o mesmo curso de Edlanea Ferreira, confirma o peso da moradia no orçamento. Após adiar os planos de estudar em Portugal devido ao aumento nos custos, só conseguiu se mudar depois de trabalhar na França para juntar recursos. Hoje paga 450 euros em um alojamento temporário, mas ainda busca opções mais baratas.

A experiência mostra que, embora Portugal siga atraindo estudantes brasileiros, os desafios financeiros, especialmente relacionados à habitação, têm se tornado cada vez mais determinantes para a permanência no país.