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Mundo
05/09/2025 16:00:00

Deportações aumentam na Alemanha

Deportações aumentam na Alemanha

No primeiro semestre deste ano, 12 mil pessoas foram deportadas da Alemanha, o que representa uma média de 66 por dia. O governo alemão busca endurecer as regras de asilo, enquanto organizações que acompanham o processo pedem maior transparência.

Mert Sayim, assessor da Diakonie, entidade ligada à Igreja Protestante, atua em aeroportos da Renânia do Norte-Vestfália monitorando deportações e registrando possíveis abusos. Somente no aeroporto de Düsseldorf, em 2024, mais de 2.800 pessoas foram enviadas de volta após rejeição de pedidos de asilo ou por serem consideradas ameaça à segurança pública. No total, 20.084 deportações foram registradas no país naquele ano. Desde 2022, o número anual saltou de pouco menos de 13 mil para mais de 20 mil, tendência que deve crescer em 2025.

Sayim relata que, em muitos casos, o processo é perturbador. No relatório anual da Diakonie, citou a expulsão de uma criança recém-operada do coração sem acompanhamento médico adequado, apesar de já haver consulta marcada. O documento recomenda que, em casos de pessoas doentes, seja avaliada a possibilidade real de acesso a tratamento no país de destino, com suspensão da deportação se houver risco grave à saúde.

Embora raramente suspensas por razões médicas, algumas deportações deixam de acontecer por segurança. Em determinadas situações, pilotos se recusam a decolar quando os deportados apresentam comportamento agressivo. Segundo a inspetora-chefe Andrea Hoffmeister, da Polícia Federal, todos os agentes recebem treinamento específico, e nos aeroportos existem salas reservadas para famílias e crianças. Ela reforça que “a deportação não deve ser realizada a qualquer custo”.

Apesar do trabalho conjunto entre a Diakonie e a Polícia Federal, Sayim defende que o monitoramento seja ampliado e garantido em lei, permitindo acompanhamento desde a retirada das pessoas de suas casas até o voo. Ele lembra que uma diretiva da União Europeia de 2008 já prevê essa obrigatoriedade, mas a Alemanha não a aplica.

Enquanto isso, Berlim se alinha a outros países europeus em favor do endurecimento das regras. Em julho, o ministro do Interior, Alexander Dobrindt, reuniu-se com representantes da Áustria, Dinamarca, França, República Tcheca e Polônia para coordenar posições. O grupo declarou que “um repatriamento eficaz é pré-requisito para a confiança em uma política migratória equilibrada na Europa”.

Para o pastor Rafael Nikodemus, também da Diakonie, confiança só pode existir com transparência. Ele destaca que a cooperação entre órgãos governamentais e entidades civis é essencial para estabelecer limites humanitários aceitáveis. Nikodemus observa ainda um aumento no recurso ao chamado “asilo eclesiástico”, prática na qual igrejas oferecem abrigo a pessoas sob risco iminente de deportação. Em 2024, apenas na Renânia do Norte-Vestfália, foram 329 novos casos — número maior que nos anos anteriores.