No coração do centro-oeste de Minas Gerais, Serra da Saudade carrega um título curioso: é o município menos populoso do Brasil. Com 856 moradores, segundo estimativa recente do IBGE, a cidade ostenta algo ainda mais valioso que números – a tranquilidade. O último homicídio registrado no local ocorreu há quase seis décadas.
Fundada em 1962, Serra da Saudade preserva um estilo de vida baseado na confiança e no senso comunitário. Muitas casas não têm muros ou cercas, e é comum que portas e janelas permaneçam abertas o dia inteiro. No comércio, a prática da caderneta ainda resiste. Neide Faustino, dona de um dos dois mercados da cidade, conta que os clientes anotam as compras e quitam quando recebem: “O pessoal aqui é muito tranquilo, muito simples, muito humilde”.
A estrutura urbana é enxuta. Não há postos de combustível, farmácias ou hospitais. O atendimento básico é feito em um pequeno posto de saúde com um único médico, e os remédios vêm da prefeitura. Casos mais graves exigem deslocamento até cidades vizinhas. Apesar disso, a política local é organizada, com uma Câmara de nove vereadores.
Para a aposentada Maria das Graças Amaral, viver ali é privilégio: “Vim pra cá e não quero sair de jeito nenhum. É o paraíso. Bom para criar os filhos. Aqui é ‘tudibom’”.
A ausência de furtos e roubos reforça a sensação de segurança. Aposentados se reúnem na praça central, equipada com Wi-Fi gratuito, para longas conversas sem pressa. “Aqui não tem quem rouba, aqui não tem nada. Pode deixar os ‘trem’ em qualquer lugar. Conheço todo mundo”, diz a moradora Margarida Maria Fernandes.
Segundo Cristiane Gomes, técnica em saúde bucal, a vida em Serra da Saudade é marcada por solidariedade e vigilância natural: “Todo mundo fica sabendo tudo. Não tem segredo, mas se você precisou, as pessoas estão ali pra te ajudar”.
A Polícia Militar mantém proximidade com os moradores. O tenente Fabrício Aparecido da Silva explica que a população ajuda a zelar pela cidade: “Sempre que algum veículo ou pessoa em atitude suspeita aparece, o policial militar é acionado diretamente pelo cidadão”.
Assim, Serra da Saudade mostra que qualidade de vida não se mede por tamanho, mas por laços de confiança e pela sensação de segurança que há muito tempo deixaram de existir em boa parte do país.