O primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, que conquistou seu quarto mandato em maio prometendo levar o país à União Europeia até 2030, lançou outro objetivo ambicioso: abolir o uso de dinheiro em espécie até o fim da década. Segundo ele, todas as transações financeiras seriam digitais, o que eliminaria práticas consideradas ultrapassadas e ineficientes.
Embora a ideia soe moderna, especialistas e a própria população demonstram ceticismo. Muitos albaneses, especialmente das gerações mais velhas, ainda preferem lidar com dinheiro vivo. O sistema bancário do país é recente: caixas eletrônicos só foram introduzidos em 2004, e boa parte da população rural continua à margem da digitalização financeira.
Arben Malaj, ex-ministro das Finanças, avalia que a proposta de Rama é mais populista do que prática. Ele lembra que a economia albanesa tem alta taxa de informalidade, sobretudo na agricultura, e que grande parte das remessas de emigrantes — bilhões de euros anuais — circula fora dos canais oficiais. Malaj também alerta para a necessidade de pesados investimentos em cibersegurança.
Esse ponto é reforçado pelo especialista Besmir Semanaj, que classifica o plano como perigoso. Para ele, ataques cibernéticos recentes contra órgãos do governo mostraram que a Albânia não tem infraestrutura suficiente para garantir proteção digital. Mesmo países altamente digitalizados, como Suécia e Noruega, mantêm reservas de dinheiro físico para situações emergenciais, enquanto a Albânia cogita abrir mão totalmente dessa alternativa.
Além disso, empresários temem impactos negativos sobre pequenos negócios. No setor de turismo, por exemplo, muitos fornecedores trabalham apenas com dinheiro vivo. A digitalização forçada poderia excluí-los do mercado e aumentar os custos de empresas que precisariam lidar com taxas bancárias sobre transações digitais.
Apesar de o Banco da Albânia registrar avanços — de dois pagamentos eletrônicos por pessoa em 2015 para 21 em 2023 —, o país ainda está distante da média da União Europeia, que ultrapassa 300 operações digitais per capita por ano. O comércio eletrônico também é limitado, já que plataformas como Stripe não atuam na Albânia e soluções como PayPal não estão plenamente integradas para empresas locais.
Diante desses obstáculos, especialistas avaliam que o plano de Rama carece de metas claras e prazos realistas. A digitalização financeira avança, mas a transformação completa para uma sociedade sem dinheiro em espécie dificilmente ocorrerá até 2030. A Albânia ainda precisará de mais tempo, infraestrutura e adaptação cultural para alcançar esse marco.