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Acidente
22/08/2025 09:00:00

Campanha Revela Inadequações na Prescrição de Antibióticos em Hospitais

Estudo indica que 20% das unidades de saúde não realizam o ajuste correto das dosagens

Campanha Revela Inadequações na Prescrição de Antibióticos em Hospitais

Uma investigação realizada em mais de 100 hospitais brasileiros trouxe à tona um dado alarmante: um em cinco estabelecimentos de saúde falha em ajustar adequadamente a dosagem de antibióticos. O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (20) pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e integra a campanha intitulada “Será que precisa? Combatendo a resistência antimicrobiana por meio de antibióticos e antifúngicos”.

A pesquisa, que foi conduzida pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG) em instituições de saúde públicas e privadas, destaca a urgência de evitar o uso excessivo ou ineficaz desses medicamentos, uma prática que eleva o risco de infecções provocadas por bactérias resistentes.

Dentre os 104 hospitais analisados, 87,7% continuam a prescrever antibióticos de maneira empírica, o que significa que os médicos fazem suas escolhas baseando-se em tentativas e erros.

“Os dados obtidos ressaltam a necessidade premente de políticas públicas eficazes. Urge que tomemos medidas para coibir a prescrição indiscriminada de antibióticos”, declarou Mara Machado, presidente do IQG.

De acordo com especialistas, a inadequação na dosagem de antibióticos contribui para um cenário de risco elevado de infecções hospitalares e para o crescimento da resistência bacteriana a esses medicamentos, além de ocasionar danos ao meio ambiente.

Quando não são ajustados corretamente, o uso excessivo de antibióticos propicia o aparecimento de microrganismos resistentes, tornando esses tratamentos ineficazes. Mara Machado ainda destacou que a resistência antimicrobiana dificulta o controle efetivo de infecções.

No Brasil, estima-se que anualmente 48 mil pessoas percam a vida em decorrência de infecções resistentes, com uma projeção de mais de 1,2 milhão de mortes até 2050. “Por essa razão, é fundamental controlar todo o ciclo da prescrição até o descarte de antibióticos para mitigar a resistência a esses fármacos”, completou.

“Entretanto, a pesquisa revelou que todos os hospitais avaliados não dispõem de protocolos de descarte nem de análise de efluentes hospitalares, o que transforma essa questão em um problema ambiental também”, acrescentou a pesquisadora.

A CEO do Instituto Qualisa de Gestão, Mara Machado, discute os resultados da pesquisa sobre Infecções Hospitalares: a situação dos hospitais públicos e privados no Brasil Rovena Rosa/Agência Brasil

Os organizadores da campanha enfatizam que a resistência antimicrobiana já é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma crise silenciosa, com potencial de causar mais mortes que o câncer até 2050. Infecções comuns, como as urinárias, pneumonias e complicações de ferimentos cirúrgicos, estão se tornando progressivamente mais difíceis ou até impossíveis de tratar, resultando em mais de 5 milhões de óbitos anualmente.

“O uso empírico e sem evidências pode acarretar sérios problemas para a saúde pública. A resistência a antibióticos é um fator agravante em muitos casos de mortalidade, especialmente em UTIs, constituindo riscos desnecessários que poderiam ser evitados com um controle mais rigoroso. Embora os hospitais tenham comitês voltados ao controle de infecções, existem muitas lacunas a serem preenchidas”, enfatizou Ana Gales, coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da SBI.

A infectologista e coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Ana Gales Rovena Rosa/Agência Brasil

Para Anis Ghattás, presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (AHOSP), as instituições de saúde desempenham um papel essencial na luta contra esse problema.

“Dessa forma, estamos nos empenhando na implementação de protocolos rigorosos e na capacitação das equipes para garantir o uso responsável de antimicrobianos. Nosso compromisso é com a orientação técnica. Buscamos promover uma resposta coletiva e coordenada”, concluiu.