07/10/2025 19:20:08

Acidente
21/08/2025 02:00:00

Desmatamento para cultivo de soja volta a ameaçar Amazônia

Desmatamento para cultivo de soja volta a ameaçar Amazônia

A suspensão temporária da chamada moratória da soja, que desde 2008 proibia a comercialização de grãos cultivados em áreas desmatadas na Amazônia, reacendeu temores sobre o avanço da destruição da floresta. A medida foi determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão ligado ao Ministério da Justiça, que abriu investigação para apurar suposta formação de cartel entre exportadoras do setor.

Enquanto durar o processo, que pode se estender por meses, o acordo firmado há quase duas décadas fica paralisado. A iniciativa nasceu em 2006 após forte pressão social e ambiental, quando entidades como Greenpeace e WWF denunciaram a ligação entre a soja amazônica e o desmatamento. A moratória consolidou-se como um marco na redução da devastação: de 10,6 mil km² desmatados por ano em municípios produtores antes do pacto, a taxa caiu para cerca de 3 mil km² anuais depois de sua implementação.

A decisão do Cade atendeu a pedido da Comissão de Agricultura da Câmara, que acusava as tradings de impor restrições de mercado ao se recusar a comprar soja de áreas abertas após 2008. A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) comemorou, dizendo que a moratória limitava o crescimento da categoria. Já entidades exportadoras, como a Abiove, afirmaram que vão recorrer e defender a continuidade do acordo.

Para organizações ambientais, a suspensão é um retrocesso que coloca em risco a credibilidade da soja brasileira no mercado internacional. Maurício Voivodic, diretor-executivo da WWF Brasil, alerta que o país pode perder compradores externos que exigem garantias de origem sem desmatamento. O Greenpeace reforça a preocupação, afirmando que a medida abre espaço para que produtores voltem a derrubar floresta para expandir lavouras.

Mato Grosso, maior exportador de soja do país e segundo estado que mais desmata a Amazônia, concentra boa parte das tensões. O presidente da Aprosoja local, Lucas Costa Beber, classificou a moratória como um "acordo comercial que restringe os produtores". Ambientalistas, por outro lado, avaliam que a pressão de setores considerados retrógrados do agronegócio influenciou a decisão do Cade.

Especialistas também apontam riscos de impacto na imagem internacional do Brasil, principalmente diante da entrada em vigor, em 2026, da lei da União Europeia que veta importações de produtos ligados a desmatamento após 2021. Para Nathalia Nascimento, professora da Esalq/USP, a moratória foi fundamental na redução da devastação e deveria ser aprimorada, não suspensa. Segundo ela, a medida do Cade se insere em um movimento mais amplo de enfraquecimento das políticas ambientais, o que considera grave diante da crise climática.

Com o futuro do pacto em aberto, a incerteza recai sobre o papel da soja na Amazônia. Exportadores temem perder mercados, produtores se sentem liberados para expandir lavouras e ambientalistas alertam que a floresta pode voltar a ser o preço da expansão agrícola.