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Acidente
18/08/2025 22:00:00

A corrida contra o tempo para retirar civis da Ucrânia

A corrida contra o tempo para retirar civis da Ucrânia

Sob constante ameaça de drones russos, equipes da polícia ucraniana percorrem vilarejos próximos à linha de frente para resgatar moradores em risco. Em Kostiantynivka, no leste do país, a missão dos chamados “Anjos Brancos” é levar a população para locais mais seguros, enquanto o futuro dos deslocados permanece indefinido.

Ao longo da estrada rural que leva à cidade, grandes redes foram instaladas pelo exército ucraniano para deter drones inimigos carregados de explosivos. As hélices se enroscam nas cordas, impedindo que alcancem a rodovia. É por esse trajeto que passa diariamente o grupo de policiais, guiado por Hennadij Judin em um veículo blindado equipado contra ataques aéreos. Armados com espingardas, eles seguem em busca de civis que ainda resistem em permanecer.

Dos antigos 67 mil habitantes, apenas cerca de 8.500 continuam em Kostiantynivka, segundo autoridades locais. Os ataques são diários e cada vez mais letais. Muitos moradores não têm meios de transporte para fugir sozinhos. As ruas desertas exibem casas destruídas, carros queimados, barreiras antitanque e sacos de lixo acumulados. Foi nesse cenário que o agente Dmytro resgatou um idoso cego que aguardava ajuda.

Nem sempre os pedidos de evacuação se concretizam. Algumas pessoas desistem no último momento, temendo abandonar suas casas ou incertas sobre o destino. Uma idosa que pediu socorro acabou recusando a saída ao alegar problemas de saúde. “Ambulâncias não chegam mais até aqui”, alertou a policial Nastja, tentando convencê-la.

Apesar das hesitações, o número de moradores dispostos a partir cresce. “Os porões já não oferecem proteção contra os bombardeios”, afirma Judin. Enquanto isso, a cidade vizinha de Toretsk, já em ruínas, mostra o avanço russo rumo ao cerco de Kostiantynivka.

No caminho, os policiais cruzam um ônibus atingido por ataque que matou o motorista e feriu o cobrador, o que levou ao fim da circulação de transportes coletivos. Em outro ponto, encontram Viktor, um idoso sentado sobre as malas, acompanhado por vizinhos que também pedem para ser levados. “Pensamos que iria melhorar, mas só piora”, lamenta a aposentada Natalja, sem eletricidade, água ou sinal de celular em casa.

Cada resgate é acompanhado de tensão. Em muitas ocasiões, os “Anjos Brancos” também recolhem corpos. Em Pokrovsk, acharam um homem morto em seu carro após ser atingido por um drone. Em outra missão, buscaram o corpo de um civil em casa, a pedido da filha que queria garantir-lhe sepultamento digno. Judin contou ao menos 22 túmulos improvisados pelas ruas da cidade.

Nem todos aceitam partir. Tetjana, que vivia com o irmão Serhij, resistiu até o último momento antes de ceder. “Algumas pessoas têm mais medo do futuro incerto do que da morte”, observa Judin. A incerteza assombra os deslocados, levados para abrigos de emergência em Pavlohrad, perto de Dnipro. Lá recebem assistência social, embora insuficiente para cobrir despesas em cidades mais seguras.

“Estou indo para um mundo desconhecido”, confessa Viktor, um dos evacuados. Enquanto isso, os policiais retornam a Kostiantynivka, onde outras duas mulheres já aguardam a chance de deixar a cidade antes que seja tarde demais.