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Acidente
18/08/2025 18:00:00

A catastrófica situação em guerra onde pessoas sobrevivem com ração animal: 'Nossos filhos estão morrendo'

A catastrófica situação em guerra onde pessoas sobrevivem com ração animal: 'Nossos filhos estão morrendo'

Nas cozinhas comunitárias da sitiada El-Fasher, no Sudão, o desespero tomou conta das mulheres. Elas relatam que os filhos estão morrendo diante de seus olhos, vítimas da fome e da falta de cuidados básicos. "Eles não têm ligação com nenhum dos lados em guerra, mas estão pagando o preço do conflito", disse uma delas à BBC.

A cidade sofre com a escassez extrema de alimentos, que disparou os preços. O que antes rendia comida para uma semana hoje garante apenas uma refeição. Organizações humanitárias denunciam que a fome vem sendo usada como arma de guerra.

Além da crise alimentar, um surto de cólera se espalha nos campos onde vivem os deslocados. Segundo Médicos Sem Fronteiras, o Sudão enfrenta o pior surto em anos, com quase 100 mil casos e mais de 2.400 mortes no último ano, concentrados em El-Fasher.

O conflito entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) já dura mais de dois anos, desde que ambos romperam após um golpe de Estado. El-Fasher, em Darfur Ocidental, se transformou em um dos principais campos de batalha. Os paramilitares reforçaram o cerco de 14 meses e intensificaram os ataques.

Sem acesso a comida, moradores recorrem ao ambaz, subproduto do amendoim usado como ração animal, que é transformado em mingau nas cozinhas comunitárias. "Chegamos ao ponto de comer ambaz. Não há mais farinha, não há pão. Que Deus nos livre desta calamidade", disse um voluntário.

A ONU pediu uma pausa humanitária para permitir a entrada de comboios com alimentos, mas a RSF resiste. Enquanto isso, os civis tentam sobreviver com pouco ou nada. Médicos relatam que pessoas estão morrendo de desnutrição. O pediatra Ibrahim Abdullah Khater afirmou que crianças gravemente desnutridas no Hospital Al Saudi "estão apenas esperando a morte".

Hospitais estão destruídos, sem equipamentos e sem medicamentos. Relatórios estimam mais de 60 mortes por fome só na última semana. "As crianças de El-Fasher estão morrendo todos os dias por falta de comida e de remédios. E a comunidade internacional assiste", lamentou o médico.

Organizações humanitárias denunciam que ataques a infraestrutura e bloqueios de ajuda demonstram uma estratégia deliberada para quebrar a população civil. Há relatos de estocagem de alimentos para uso militar, enquanto civis ficam sem nada.

Centenas de milhares fugiram de El-Fasher, muitos do campo de deslocados de Zamzam, tomado pela RSF. Famílias chegam a Tawila, 60 km dali, exaustas, desidratadas e relatando violência nas estradas.

Mesmo nos campos superlotados, a segurança é frágil: doenças como a cólera avançam, causadas pela falta de água potável e de saneamento. Em Tawila, ainda há presença de organizações humanitárias, mas os recursos são insuficientes. "Temos apenas três litros de água por pessoa ao dia, muito abaixo do necessário", disse o coordenador da MSF.

Histórias como a de Zubaida Ismail Ishaq se repetem. Grávida de sete meses, perdeu o marido para homens armados e viu a filha ferida na fuga. No campo, contraiu cólera junto com a mãe. "Não temos nada, nem água para beber", contou.

Em El-Fasher, mulheres reunidas na cozinha comunitária fazem apelos de socorro. "Estamos exaustas. Queremos o fim deste cerco. Mesmo que lancem comida do céu, qualquer coisa — estamos completamente exaustas", disse Faiza Abkar Mohammed.