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Economia
18/08/2025 00:00:00

Por que o mercado de ações de US$ 11 trilhões da China desafia os planos de Xi Jinping

Por que o mercado de ações de US$ 11 trilhões da China desafia os planos de Xi Jinping

O fraco desempenho das bolsas chinesas, mesmo após uma leve recuperação recente, continua sendo um entrave para a estratégia econômica de Xi Jinping. Em vez de estimular o consumo interno, como desejam Pequim e Washington, os retornos baixos levam as famílias a poupar mais e gastar menos, reduzindo o dinamismo da economia.

Se um investimento de US$ 10 mil no índice norte-americano S&P 500 teria triplicado em uma década, o mesmo valor aplicado no CSI 300 da China acrescentaria apenas cerca de US$ 3 mil. Parte dessa diferença é explicada pela origem do mercado acionário chinês: criado há 35 anos para captar recursos das famílias e financiar infraestrutura e estatais, nunca priorizou retornos aos acionistas. Esse modelo gerou distorções, excesso de ofertas de ações e fraudes que ainda afetam a credibilidade do sistema.

O desafio é ainda maior porque o governo depende do mercado para financiar empresas estratégicas em áreas como inteligência artificial, semicondutores e robótica, essenciais na disputa tecnológica com os Estados Unidos. Para atingir a meta de crescimento de 5% em meio à guerra tarifária, Xi precisa estimular o consumo doméstico, mas a desconfiança no mercado dificulta esse movimento.

Nos últimos anos, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários endureceu regras contra fraudes e forçou empresas a aumentar dividendos. Em 2024, companhias listadas em Xangai e Shenzhen distribuíram US$ 334 bilhões em dividendos, 9% a mais que no ano anterior. Mesmo assim, o volume ainda está longe do praticado nos Estados Unidos. O CSI 300 subiu menos de 7% neste ano, apesar do otimismo em torno da inteligência artificial, bem abaixo dos índices ocidentais.

Casos de empresas que levantaram capital e depois foram retiradas por irregularidades, como a Beijing Zuojiang Technology, reforçam a percepção de insegurança. A supervisão considerada frouxa, a proliferação de IPOs de baixa qualidade e o foco em captar recursos para companhias ligadas ao Estado minam a confiança dos investidores de varejo, que apelidaram o risco de investir em certas ofertas de “pisar em mina terrestre”.

O Politburo reconheceu o problema ao prometer “estabilizar os mercados imobiliário e acionário”, sinal raro em reuniões de alto nível. Mas o dilema permanece: a China precisa ampliar a base de financiamento para suas ambições tecnológicas, ao mesmo tempo em que tenta oferecer retornos mais consistentes a investidores.

Especialistas afirmam que sem um ambiente regulatório mais robusto e proteção efetiva ao pequeno acionista, as medidas adotadas não serão suficientes para reverter décadas de desconfiança. Para Hebe Chen, da Vantage Markets, priorizar listagens de empresas não lucrativas sem resolver falhas de transparência “aumenta o volume, mas não restaura a confiança”.

Enquanto isso, a taxa de poupança das famílias continua em 35% da renda disponível — uma das mais altas do mundo —, refletindo tanto a insegurança social quanto a descrença no mercado de ações. Sem inverter essa tendência, Xi Jinping terá dificuldades para transformar o consumo interno em motor sustentável do crescimento econômico chinês.