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América Latina
18/08/2025 09:00:00

Nova oposição ganha espaço na Venezuela e Maduro pede ‘paz’ à direita

Nova oposição ganha espaço na Venezuela e Maduro pede ‘paz’ à direita

O governo venezuelano tem chamado de “nova oposição” o grupo que conquistou espaço nas últimas eleições municipais. Diante da divisão da direita, esse setor reuniu os votos contrários ao chavismo e venceu em 50 cidades onde o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) não conseguiu eleger prefeitos. Embora ainda sem liderança consolidada, a força do bloco tem crescido por meio de partidos locais.

Entre os principais nomes estão a Fuerza Vecinal, que concentrou vitórias na área metropolitana de Caracas, e o Vamos Vamos Cojedes, que já havia eleito um governador em maio e agora conquistou prefeituras em seu estado. Nicolás Maduro tem feito apelos para que esse grupo se mantenha distante da extrema direita e contribua para uma gestão política pacífica. Após o pleito de 27 de julho, o presidente disse que deseja “virar a página” dos episódios de sanções, tentativas de golpe e pedidos de intervenção estrangeira, defendendo o diálogo como caminho.

A divisão na direita se acentuou com a ausência da ex-deputada María Corina Machado, que pregou a abstenção em protesto contra as eleições presidenciais de 2024. O boicote, contudo, resultou em derrota expressiva: o PSUV venceu em 23 dos 24 estados e conquistou ampla maioria na Assembleia Nacional. Analistas consideram que a estratégia de não participar do processo eleitoral apenas reforçou o domínio chavista.

Segundo o jornalista Eduardo Cornejo, o novo grupo opositor aposta na via eleitoral e rejeita a violência. Para ele, trata-se de uma direita mais moderada, que busca conquistar espaço institucional e se distanciar de setores extremistas. Já partidos tradicionais, como Ação Democrática, Copei e Un Nuevo Tiempo, perderam protagonismo e enfrentam descrédito popular, apesar de não terem aderido ao questionamento das eleições de 2024.

A principal diferença entre os blocos opositores está na estratégia: enquanto María Corina defende boicote e protestos radicais, a nova oposição aposta em boas gestões municipais e em acordos pontuais com o chavismo. Ideologicamente, todos os setores se alinham ao liberalismo, mas em graus distintos. A ala extremista propõe privatizações em larga escala, incluindo a estatal PDVSA, enquanto os moderados não defendem mudanças tão profundas e buscam preservar serviços públicos sob gestão estatal.

Críticos apontam que nenhum desses grupos apresentou propostas concretas para diversas áreas do país. María Corina chegou a divulgar, em 2023, o projeto “Venezuela Terra da Graça”, baseado em investimentos privados bilionários, mas sem detalhar sua aplicação. A promessa de ampliar a produção de petróleo para 6 milhões de barris por dia também foi considerada pouco viável. O próprio governo de Maduro trabalha com meta de atingir 3 milhões até 2027, após a saída da Chevron do país.

Sem uma liderança nacional forte, a oposição moderada vê no governador de Cojedes, Alberto Galindez, uma possível referência para 2026. Ele já governou o estado em outros dois mandatos e é considerado um político de perfil conciliador, embora ainda careça de popularidade. Para analistas, seu espaço de negociação com o chavismo pode fortalecê-lo, mas ainda não há garantia de que conseguirá centralizar o apoio opositor.

Com a extrema direita enfraquecida e partidos tradicionais dispersos, a nova oposição tenta consolidar-se como alternativa ao chavismo, apostando em estabilidade, diálogo e uma postura menos radical frente ao governo. O desafio agora é transformar vitórias locais em um projeto político de alcance nacional.