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Geral
16/08/2025 20:00:00

Como uma ilha na Amazônia virou alvo de disputa entre Colômbia e Peru

Como uma ilha na Amazônia virou alvo de disputa entre Colômbia e Peru

Uma pequena ilha no meio do rio Amazonas, com cerca de 3.000 moradores, voltou a provocar atritos diplomáticos entre Colômbia e Peru. A Ilha de Santa Rosa, cuja formação é relativamente recente, passou a ser reivindicada pelo governo colombiano, enquanto Lima garante que o território pertence ao Peru e que não há pendências de fronteira a resolver.

O embate ganhou força no início de agosto, quando o presidente colombiano Gustavo Petro declarou que a ilha deveria ser reconhecida como parte de seu país. Em resposta, a presidente peruana, Dina Boluarte, afirmou que a soberania de Santa Rosa é respaldada pela história e pelos acordos firmados entre as duas nações, descartando qualquer possibilidade de disputa.

A origem da controvérsia remete ao Tratado de Salomón-Lozano, de 1922, que definiu as fronteiras no rio Amazonas, posteriormente ratificado pelo Protocolo do Rio de Janeiro, em 1934, após a Guerra Colombiano-Peruana. Na época, apenas duas ilhas foram oficialmente distribuídas: Ronda, para a Colômbia, e Chinería, para o Peru. A Ilha de Santa Rosa, contudo, só teria surgido décadas depois, resultado do processo de sedimentação e das mudanças no curso do rio.

De acordo com Bogotá, como a ilha apareceu após 1929, sua destinação deveria ser decidida de forma conjunta. Já Lima alega que Santa Rosa integra a ilha de Chinería, reconhecida como peruana desde a década de 1920.

Nos últimos meses, o Peru reforçou sua posição. Em junho, o Congresso aprovou a criação do distrito de Santa Rosa de Loreto, na província de Mariscal Ramón Castilla, incorporando oficialmente a área à sua estrutura administrativa. Pouco depois, autoridades peruanas visitaram a ilha, enviando um recado direto à Colômbia sobre a defesa do território.

Petro, por sua vez, disse não reconhecer a soberania peruana sobre Santa Rosa e acusou Lima de impor autoridades de fato. Ele também manifestou preocupação de que a apropriação das ilhas pelo Peru comprometa a atividade econômica de Letícia, cidade colombiana situada na tríplice fronteira com o Brasil, cuja sobrevivência depende do fluxo comercial no rio Amazonas.

A disputa ainda pode ter desdobramentos jurídicos. Caso não haja consenso, a Colômbia poderá levar a questão à Corte Internacional de Justiça. Enquanto isso, uma Comissão Mista Permanente deve se reunir em setembro para discutir os limites e inspecionar a fronteira amazônica.

Mesmo com as tensões, o governo peruano insiste que não há litígio. “O Peru é um país que sabe dialogar com vocação para a paz, mas é firme na defesa de seu território e de seus interesses”, declarou o primeiro-ministro Eduardo Arana durante visita à ilha.

Ainda assim, especialistas alertam que as mudanças naturais no curso do Amazonas continuam criando novos desafios fronteiriços. Um estudo recente da Universidade Nacional da Colômbia mostrou que o fluxo do rio na região de Letícia caiu drasticamente, reforçando a necessidade de acordos binacionais para evitar que questões geográficas se transformem em disputas políticas permanentes.