A chefe de gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), Ivanadja Velloso Meira Lima, denunciada pelo Ministério Público Federal por improbidade administrativa em um caso de rachadinha, possui procurações que lhe concedem poderes amplos para sacar e movimentar salários de servidores e ex-servidores ligados ao parlamentar.
Levantamento identificou que dez pessoas, entre atuais e antigos funcionários do gabinete, assinaram documentos concedendo a Ivanadja autorização para efetuar saques, receber salários e realizar movimentações bancárias em nome delas. Oito dessas procurações citam explicitamente o recebimento de salários, e duas continuam vigentes para funcionários que seguem no gabinete. Juntas, essas pessoas receberam mais de R$ 4 milhões durante o período em que trabalharam com o deputado.
As procurações, registradas em cartórios da Paraíba desde 2011, indicam que a prática ocorre desde o início do mandato de Hugo Motta. Ivanadja, que trabalhou até janeiro de 2011 como chefe de gabinete do deputado Wilson Santiago, assumiu no dia seguinte o mesmo posto com Motta, mantendo o mesmo tipo de acesso a contas de funcionários.
Entre os casos identificados está o de Ary Gustavo Xavier Guedes Soares, motorista e caseiro da fazenda de Hugo Motta, que já recebeu mais de R$ 1,1 milhão da Câmara e assinou duas procurações em favor de Ivanadja. Outra funcionária ainda ativa no gabinete, Jane Costa Gorgônio, também concedeu poderes à chefe de gabinete para movimentar seus salários. Há ainda situações que sugerem desvio de função e acúmulo irregular de cargos, como a de Maria Socorro de Oliveira, que trabalhou simultaneamente no gabinete e no governo da Paraíba.
A reportagem também identificou ex-funcionários que assinaram procurações e se envolveram em investigações de outros esquemas ilícitos, como Valdirene Novo dos Reis, alvo da Operação Recidiva da Polícia Federal, e Kelner Araujo de Vasconcelos, denunciado na Operação Veiculação.
A acusação contra Ivanadja no caso que tramita na Justiça Federal se refere a um esquema com um funcionário fantasma no gabinete de Wilson Santiago, no qual ela teria sacado valores de sua conta. A defesa afirma que não há provas de enriquecimento ilícito e que as acusações se baseiam em presunções.
Segundo as normas da Câmara, cada deputado pode contratar até 25 secretários parlamentares, com salários que variam de R$ 1,5 mil a R$ 18,7 mil, sendo obrigatória a comprovação de frequência mensal. Apesar disso, a coluna revelou que Hugo Motta mantém casos de supostos funcionários fantasmas, como o de Gabriela Batista Pagidis e quatro parentes dela, que juntos receberam mais de R$ 2,8 milhões enquanto ocupavam cargos no gabinete.
Nem Hugo Motta nem Ivanadja Velloso se manifestaram sobre as novas revelações.