A paranaense Ana Paula de Souza, condenada a 14 anos de prisão pelos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, afirma se sentir abandonada pelas autoridades. Ela está detida no complexo penitenciário de Ezeiza, em Buenos Aires, junto com outros quatro brasileiros, aguardando o julgamento do pedido de extradição feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Após quebrar a tornozeleira eletrônica no Brasil e fugir para a Argentina em fevereiro do ano passado, Souza pediu refúgio à Comissão Nacional para os Refugiados (Conare) argentina, mas acabou presa próximo de onde morava. Ela alega que a própria comissão teria repassado seu endereço às autoridades.
Segundo a detenta, a audiência para tratar de sua extradição já foi adiada duas vezes e suspensa após recurso de um dos advogados. Ela relata ter enfrentado más condições de encarceramento, incluindo falta de banho de sol, convivência com presas envolvidas em crimes graves, episódios de xenofobia e até tentativas de adulteração de sua água potável. Após uma crise de pânico, foi transferida para outro espaço dentro do presídio, onde divide o local com duas detentas e afirma sofrer extorsão.
Souza não demonstra arrependimento por participar do 8 de Janeiro, que chama de “manifestação”, embora diga não concordar com depredações. Ela afirma se sentir “traída” pelo governo argentino, acusando o presidente Javier Milei de incoerência por criticar Lula e Alexandre de Moraes e, ao mesmo tempo, manter presos brasileiros que pediram refúgio.
A advogada Carla Junqueira sustenta que a condenação foi equivocada e sem individualização do caso. Souza também critica a falta de apoio de políticos brasileiros, inclusive de parlamentares bolsonaristas que visitaram os presos em maio, mas não teriam mantido contato.
Outros foragidos na Argentina, segundo ela, vivem com medo, já que ainda existem 62 pedidos de extradição em aberto. Alguns teriam deixado o país, enquanto outros aguardam a decisão da Conare sobre seus pedidos de refúgio.