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Atualidade
14/08/2025 16:00:00

Por que o Mais Médicos virou alvo do governo Trump

Por que o Mais Médicos virou alvo do governo Trump

O governo de Donald Trump anunciou, na quarta-feira (13), a revogação dos vistos de dois brasileiros que participaram da criação do programa Mais Médicos: Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, coordenador-geral para a COP30. A decisão foi divulgada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, como parte da retomada da política de restrição de vistos relacionada a Cuba.

Segundo Rubio, os dois teriam colaborado com o que chamou de “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”, em referência à participação de médicos cubanos no programa entre 2013 e 2018. O secretário alegou que Sales e Kleiman foram cúmplices do trabalho forçado promovido por Havana por meio do Mais Médicos.

O Departamento de Estado dos EUA acusou os envolvidos de beneficiar financeiramente o governo cubano e privar a população da ilha de atendimento médico. Também apontou que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) teria atuado como intermediária para viabilizar o programa no Brasil sem cumprir requisitos constitucionais, além de driblar sanções americanas impostas a Cuba. A Opas, vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não se pronunciou.

No atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Mais Médicos prioriza profissionais brasileiros. Dados divulgados em 11 de agosto indicam que 92,25% dos 24,9 mil médicos ativos no programa são nacionais. A medida contra Sales e Kleiman recebeu apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vive nos Estados Unidos e tem defendido sanções contra autoridades brasileiras, especialmente ministros do Supremo Tribunal Federal.

O episódio se soma a uma série de medidas recentes de retaliação de Trump ao Brasil. Em julho, Washington impôs tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, acusando o país de perseguir politicamente Jair Bolsonaro, réu em processo sobre suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022.

Procurados, o Ministério da Saúde e a assessoria da COP30 ainda não comentaram o caso.

O Mais Médicos é uma política pública criada para ampliar o acesso da população a atendimento médico, especialmente em regiões remotas e com escassez de profissionais. Além de levar médicos a áreas prioritárias, o programa incentiva a formação e qualificação de profissionais por meio de parcerias com instituições de ensino, integrando ações com estados e municípios para fortalecer a Estratégia Saúde da Família.

Lançado em 2013, o programa chegou a 18.240 médicos em 4.058 municípios no ano seguinte. Entre 2016 e 2022 houve queda no número de profissionais, chegando a 12.843. A partir de 2023, a atual gestão retomou e expandiu o Mais Médicos para 28 mil vagas em 4.547 municípios, incluindo áreas indígenas e prisionais, beneficiando 73 milhões de brasileiros. Além do atendimento, o programa investe na formação de especialistas em Medicina de Família e Comunidade, oferecendo cursos de aperfeiçoamento, mestrado e doutorado profissional, com foco em atendimento humanizado e fortalecimento do vínculo entre médicos e comunidades.