O número de pessoas em situação de rua nos Estados Unidos atingiu recordes históricos em 2024, chegando a 770 mil indivíduos, segundo o último relatório federal. O aumento foi especialmente significativo entre famílias com filhos, cuja quantidade cresceu cerca de 40% em relação ao ano anterior, totalizando quase 150 mil menores sem-teto. Entre os poucos grupos que apresentaram queda, estão os veteranos das Forças Armadas, que tiveram redução de 8% no mesmo período.
Especialistas apontam que a crise é multifatorial e estrutural. Entre os principais fatores estão a escassez de moradia acessível, o aumento do custo dos aluguéis em relação à renda, a falta de acesso a serviços de saúde e assistência social, além de discriminação histórica e marginalização sistêmica. Organizações como a Aliança Nacional para o Fim dos Sem-Teto e a Coalizão Nacional pela Moradia de Baixa Renda indicam que muitos trabalhadores de baixa renda não conseguem arcar com os custos de habitação, precisando trabalhar mais de dois empregos em tempo integral para pagar aluguéis considerados justos pelo mercado. Estima-se um déficit de 7,1 milhões de moradias acessíveis para famílias de renda extremamente baixa.
A crise também foi agravada pelo fim da assistência federal emergencial concedida durante a pandemia, como a moratória de aluguéis e o Programa de Assistência para Aluguel de Emergência, além do impacto da chegada de imigrantes em busca de asilo, que aumentou a demanda por moradia em várias comunidades.
Em resposta à situação, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva em julho de 2025, instruindo ações para remover pessoas em situação de rua das cidades, reforçar patrulhas e promover internação civil para indivíduos com problemas de saúde mental ou dependência química. A medida, que incluiu o envio da Guarda Nacional a Washington DC, foi criticada por autoridades locais e especialistas por simplificar e criminalizar o fenômeno. Pesquisadores destacam que o enfoque de Trump não resolve as causas estruturais do problema e pode comprometer direitos à privacidade e segurança, ao mesmo tempo que não contribui para soluções de longo prazo para a crise de pessoas sem-teto.