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Atualidade
13/08/2025 09:00:00

Disputa inédita entre Brasil e EUA pode se agravar facilmente, diz Financial Times

Disputa inédita entre Brasil e EUA pode se agravar facilmente, diz Financial Times

A recente tensão entre Brasil e Estados Unidos, provocada pela imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, ganhou destaque nesta terça-feira (12) no site do Financial Times, um dos jornais mais influentes do mundo no âmbito econômico e de negócios. Em uma extensa reportagem, o periódico britânico define os impasses entre Brasília e Washington como "sem precedentes", alertando que a crise tem grande potencial para piorar e que não apresenta sinais de uma solução rápida.

O jornal ressalta que, embora Donald Trump tenha demonstrado no passado habilidade para mudar rapidamente de postura, a atual disputa com o Brasil será complexa e pode se agravar facilmente. Para Bruna Santos, especialista do think tank Diálogo Interamericano, este confronto representa “a pior crise em 200 anos de relações bilaterais” entre os dois países.

O Financial Times atribui parte das dificuldades à influência política de Jair Bolsonaro, ex-presidente que enfrenta acusações na justiça brasileira de planejar um golpe após perder as eleições de 2022, o que ele nega. O jornal relembra que a carta oficial que instituiu as tarifas, enviada em 9 de julho, classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” que deveria cessar imediatamente. Com o STF ignorando o pedido, os EUA qualificaram o Brasil como uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, formalizando a taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras, que foi parcialmente revertida, mas ainda causa impacto significativo.

Além disso, quando Bolsonaro foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica, Washington aplicou a Lei Magnitsky para sancionar financeiramente o presidente do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, devido a supostas violações de direitos humanos. Ainda assim, Moraes manteve a prisão domiciliar de Bolsonaro, determinada na última segunda-feira (4).

O Financial Times destaca que Trump se identificou com Bolsonaro, a quem chama de “Trump dos Trópicos”, e que Lula, apesar de não ter influência para parar o processo contra Bolsonaro, vê vantagem política em se posicionar contra os EUA. O ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, afirmou que o governo republicano seguirá pressionando o Brasil, enquanto Lula tenta enfrentar o presidente dos EUA, algo que Bannon acredita ser negativo para o povo brasileiro.

Por outro lado, Mônica de Bolle, do Instituto Peterson de Economia Internacional, defende que Trump não tem compromisso com Bolsonaro, e que seu foco é alcançar resultados concretos em negociações, o que poderia levar a uma resolução da crise.

O jornal também alerta que a tarifa afeta setores importantes da economia brasileira, como café, carne bovina, madeira, pescados e frutas, tornando inviáveis as exportações desses produtos para os EUA desde 6 de agosto, mesmo com 694 exceções previstas. A situação é agravada pelas ações do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que está nos EUA e tem gerado descontentamento no agronegócio, um pilar do bolsonarismo.

Apesar de tentativas de diálogo envolvendo o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, e representantes do comércio dos EUA, os presidentes Lula e Trump ainda não mantiveram contato direto. Lula afirmou não ver motivo para ligar a Trump, dizendo que não se humilhará. O empresário Rubens Menin acredita que o conflito só será resolvido quando houver uma conversa direta entre os líderes.

A reunião online agendada para esta semana entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi cancelada, aumentando a incerteza.

Celso Amorim, assessor do presidente para Assuntos Internacionais, declarou ao Financial Times que o Brasil pretende reforçar seu compromisso com os Brics e diversificar suas relações internacionais para não depender exclusivamente dos EUA. A intenção é também fortalecer vínculos com Europa, América do Sul e Ásia.

Por outro lado, parte do empresariado brasileiro defende uma postura mais conciliadora. Walter Schalka, do conselho da Suzano, ressaltou a importância de o STF agir com moderação diante do momento delicado. Lula, por sua vez, sugere um posicionamento pragmático: “Se ele quer uma briga política, que seja tratada assim. Se for sobre comércio, vamos discutir comércio. Mas não se pode misturar as coisas”, declarou recentemente à Reuters.