Mesmo sob forte sanção internacional, a Rússia ainda utiliza sua enorme riqueza energética para custear a guerra na Ucrânia. O presidente americano Donald Trump anunciou que aplicará tarifas secundárias de importação contra todos os países que mantiverem negócios com Moscou, caso não haja cessar-fogo até 8 de agosto.
Na prática, isso significa que produtos provenientes desses países poderão sofrer um imposto de importação de até 100% nos Estados Unidos. A Índia foi a primeira a ser punida, por continuar comprando petróleo russo, seguida de países como China, Turquia e Brasil — que importa cerca de 70% do óleo diesel da Rússia, conforme informou o presidente Lula em maio.
Trump justificou a medida dizendo que usa o comércio para resolver conflitos e acredita que as tarifas podem pressionar a Rússia a interromper a guerra. Essas tarifas secundárias já foram usadas anteriormente contra importadores de petróleo venezuelano, mas a escala da economia russa faz com que as consequências sejam muito maiores.
A Rússia é o terceiro maior produtor mundial de petróleo, atrás apenas da Arábia Saudita e dos EUA, mas suas exportações sofreram queda neste ano. Com a interrupção do fluxo de petróleo e gás russo, a oferta mundial pode diminuir, provocando aumento nos preços da energia, como já ocorreu após a invasão da Ucrânia em 2022. Isso alimentou um pico inflacionário global, mas Trump minimiza o impacto devido ao recorde de produção de petróleo dos Estados Unidos.
Especialistas afirmam que, desta vez, o efeito sobre os preços pode ser menor, pois a Opep+ possui capacidade ociosa para suprir parte da demanda. Além disso, a Rússia desenvolveu mecanismos para contornar sanções, como a "frota-sombra" — petroleiros com propriedade incerta que ocultam a origem das cargas — dificultando a fiscalização.
A manutenção das sanções é desafiadora, pois os países afetados buscam formas de escapar delas, segundo o especialista Richard Nephew. Desde 2022, a Índia é o segundo maior importador de petróleo russo, o que levou Trump a qualificá-la como fornecedora da “máquina de guerra” russa.
Com a nova ordem executiva, as tarifas para produtos indianos subiram para 50%, e poderão alcançar 100% em 21 dias. Empresas americanas que comprarem da Índia terão que pagar essas tarifas, tornando os produtos mais caros e desestimulando compras, com objetivo de forçar a Índia a reduzir suas compras russas.
Além disso, a medida pode aumentar os preços para consumidores americanos. Por exemplo, a Apple está transferindo a fabricação de iPhones para a Índia, e as tarifas podem encarecer esses celulares no mercado dos EUA, já que as empresas repassam os custos ao consumidor.
O governo indiano criticou os Estados Unidos por adotar “dois pesos, duas medidas”, pois Washington continua a importar produtos russos, principalmente matérias-primas para energia nuclear e fertilizantes, que totalizaram cerca de US$ 3 bilhões em 2024, valor menor do que antes da guerra, mas ainda relevante.
Assim, as tarifas de Trump podem gerar impacto global, elevando preços da energia e de produtos importados, provocando tensões comerciais e desafiando as tentativas de conter os recursos que financiam o conflito na Ucrânia.