No comércio brasileiro, o Dia dos Pais, comemorado neste domingo (10/08), representa cerca de metade do faturamento do Dia das Mães, celebrado no segundo domingo de maio. Enquanto o Dia das Mães de 2025 movimentou R\$ 14,4 bilhões, o Dia dos Pais deve alcançar R\$ 7,8 bilhões, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Essa diferença também reflete como os papéis de gênero são vistos na criação dos filhos, revelando uma sociedade ainda marcada pelo machismo e pelo patriarcado, onde a maternidade é mais valorizada do que a paternidade. O psicanalista Thiago Queiroz, pai de quatro crianças, destaca que a presença materna é celebrada com mais intensidade porque o pai, na visão social tradicional, pode "não dar conta" da criação, já que a mãe estaria lá para suprir essa função. Ele afirma que o cuidado paterno é muitas vezes marcado pela ausência e questiona: "Como você presenteia a ausência?"
Dados oficiais mostram que, do total de nascimentos registrados no Brasil desde 2016, 5% não têm pai declarado. Em 2022, mais de 11 milhões de mães criavam os filhos sozinhas no país.
Para o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da Associação Comercial de São Paulo (ACS), o Dia das Mães tem um apelo emocional e cultural mais forte e uma história oficial mais longa — foi oficializado em 1932, enquanto o Dia dos Pais surgiu em 1953, inicialmente fixado em 16 de agosto e só ganhando força comercial a partir da década de 1970. O consumo no Dia das Mães é impulsionado por produtos como flores, perfumes e experiências afetivas, enquanto o Dia dos Pais ainda não tem padrões de consumo tão consolidados.
Especialistas ressaltam que essa disparidade reflete a construção social de gênero que associa a mulher ao cuidado e à afetividade, enquanto o pai é visto principalmente como provedor, ficando distante do vínculo emocional com os filhos. A neurocientista Telma Abrahão explica que, por essa razão, a figura paterna tem menos força simbólica, e isso impacta também o engajamento comercial da data comemorativa.
Esse cenário, no entanto, tem mudado. Pais estão assumindo cada vez mais um papel ativo e presente na criação dos filhos, o que tem sido refletido até nas campanhas publicitárias, que hoje mostram pais amorosos e participativos. Mariana Malvezzi, professora da ESPM, observa que as marcas têm investido em narrativas que valorizam a paternidade ativa e diversas configurações familiares.
Para Thiago Queiroz, a transformação social só será plena quando os homens começarem a dialogar mais entre si sobre a paternidade, rompendo um "pacto do silêncio" que reforça o machismo e sobrecarrega as mulheres.