Mesmo após acordos com os Estados Unidos que resultaram em algumas libertações, a Venezuela ainda mantém 853 opositores detidos, segundo dados recentes da ONG Foro Penal. O país, ao lado de Cuba, lidera o número de prisioneiros de consciência na América Latina, e prisões arbitrárias seguem sendo frequentes.
Freddy Superlano, dirigente do partido Vontade Popular, está entre os detidos. Ele foi preso logo após as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024 e, desde então, permanece incomunicável, sem contato com a família. Sua esposa, Aurora de Superlano, conta que envia semanalmente roupas limpas e remédios à prisão de Helicoide, em Caracas, e recebe de volta as peças sujas como única confirmação de que ele segue vivo. Ela viaja a cada duas semanas de Barinas até a capital na tentativa de conseguir informações. Segundo relatos, ele está em total isolamento há meses.
Outros opositores também estariam em situação semelhante. Familiares denunciam que pelo menos 16 detentos permanecem isolados, entre eles os ex-deputados Biaggio Pillieri e Américo De Grazia, o advogado Perkins Rocha, o ex-governador Alfredo Díaz, além de jovens ligados à campanha de Edmundo González, como Luis Palocz e Jesús Armas. Nas redes sociais, a hashtag #IsolationIsTorture ganhou força, destacando o caso de Armas, que foi preso há sete meses e é acusado de conspiração e terrorismo.
A prisão de Jesús Armas foi criticada por organizações internacionais. A Universidade de Stanford, da qual ele é membro por meio do Centro para a Democracia, emitiu nota pedindo sua libertação, ressaltando seu trabalho por direitos humanos, saneamento básico e energia em comunidades carentes.
Segundo a ONG Foro Penal, ao final de julho, a Venezuela contabilizava 853 presos políticos — 759 homens e 94 mulheres, com 46 pessoas desaparecidas. Entre os nomes detidos estão o ex-candidato presidencial Enrique Márquez, os políticos Enzo Scarano e Leocenis García, o empresário Noel Álvarez, membros da equipe de María Corina Machado como Henri Alviárez e Dignora Hernández, ativistas como Javier Tarazona e Rocío San Miguel, e jornalistas como Roland Carreño e Carlos Julio Rojas.
Entre janeiro e julho de 2024, 181 opositores foram presos sob acusações de terrorismo. Esse número disparou após a reeleição de Nicolás Maduro, que foi anunciada em meio a manifestações por todo o país. Ao fim de 2024, alguns presos receberam medidas alternativas, mas as prisões continuaram.
Mesmo com recentes acordos entre os governos de Donald Trump e Nicolás Maduro — que resultaram na libertação de 10 norte-americanos e na repatriação de 252 venezuelanos detidos em El Salvador —, o governo venezuelano anunciou a soltura de apenas 80 presos, sendo que apenas 66 foram confirmados até o momento. Em paralelo, cerca de 20 opositores foram presos nas últimas semanas, segundo o partido Vente Venezuela, embora alguns já tenham sido soltos.
A diretora da Human Rights Watch, Juanita Goebertus, afirmou que o regime venezuelano pratica um "sistema de porta giratória", libertando alguns presos para prender outros. Para ela, governos estrangeiros precisam reconhecer essa tática e não devem aceitar concessões isoladas como sinal de avanço. Segundo a HRW, é necessário pressionar por reformas reais e duradouras nos direitos humanos no país.
Um dos exemplos dessa nova onda de detenções é Albany Colmenares, secretária política do Vente Venezuela no estado de Carabobo. Ela foi capturada por forças chavistas ao lado de Juan Pablo Guanipa, enquanto ambos se encontravam escondidos.
Familiares de presos relatam dificuldade para localizar os detentos, muitos dos quais são mantidos em local ignorado por dias ou semanas. A Anistia Internacional denunciou esses casos como desaparecimentos forçados. Um dos parentes relata ter visitado várias prisões antes de descobrir o paradeiro do filho. “Foi uma angústia enorme. Agora sabemos onde ele está, e estamos aguardando sua libertação”, desabafa.