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Maceió
05/08/2025 01:00:00

Moradores dos Flexais continuam esquecidos: relatório ignora sinais de afundamento na área

Moradores dos Flexais continuam esquecidos: relatório ignora sinais de afundamento na área

Apesar de evidências técnicas que apontam movimentações no solo da região dos Flexais, em Maceió, o Comitê de Acompanhamento Técnico concluiu, em relatório divulgado em 30 de julho, que não há indícios suficientes para relacionar os danos identificados ao processo de afundamento do solo causado pela mineração da Braskem. O documento é assinado por representantes da Defesa Civil Municipal, da Defesa Civil Nacional e da própria Braskem.

O relatório faz parte do ciclo de vistorias do primeiro semestre de 2025 e abrange seis Áreas Técnicas de acompanhamento (ATs), incluindo a AT-01, que compreende as comunidades do Flexal de Cima, Flexal de Baixo e parte da Chã de Bebedouro.

Na AT-01, foram realizadas 37 vistorias — o que representa cerca de 17% das residências da região. O relatório admite que muitas casas estão construídas em encostas da Formação Barreiras, uma área geologicamente instável, e reconhece que 45% dos terrenos vistoriados possuem cortes ou aterros sem contenção, aumentando os riscos de deslizamentos e rachaduras.

Apesar disso, os técnicos atribuíram os danos verificados a problemas de construção e falta de manutenção. Entre os problemas apontados estão infiltrações, pisos afundando e rachaduras em paredes. Em uma das vistorias, 93% das casas não tinham impermeabilização adequada, e mais de 80% não contavam com vergas ou contravergas nas estruturas.

O próprio relatório, no entanto, admite que 46 pontos da AT-01 apresentaram deslocamentos verticais entre -5 mm e -10 mm por ano, números que já configuram risco de instabilidade segundo padrões técnicos internacionais. Na Rua Marquês de Abrantes, por exemplo, o deslocamento acumulado chega a -54,7 mm. Ainda assim, os autores do estudo afirmam que os dados não condizem com o padrão da subsidência causada pela Braskem, alegando que a direção das fissuras seria diferente.

Moradores da região reagiram com indignação. Para eles, o relatório representa mais uma tentativa de negar o sofrimento enfrentado diariamente. “Eles dizem que a culpa é nossa, que construímos errado. Mas fomos nós que pedimos para morar em cima de uma mina ativa?”, questiona Lucélia Aureliano, moradora do Flexal de Cima há 46 anos. “Nunca minha casa tinha rachado até agora.”

A comunidade acusa a Braskem e os órgãos públicos de restringirem deliberadamente a delimitação das áreas afetadas para reduzir o número de indenizações, reassentamentos e responsabilidades judiciais. A participação direta da Braskem na elaboração do relatório também levanta dúvidas sobre a imparcialidade do documento, segundo os moradores.

Para o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), o relatório é mais uma ferramenta de proteção à empresa, que busca minimizar os danos financeiros e jurídicos da tragédia que provocou em Maceió. A entidade reivindica o reconhecimento da AT-01 como área diretamente impactada, o pagamento de indenizações justas, a presença da comunidade nos comitês técnicos e a realização de perícias independentes.

“Flexais existem. E resistem”, afirma o movimento, denunciando o apagamento sistemático de comunidades inteiras em nome dos interesses de uma empresa que lucrou à custa da destruição de milhares de vidas.