Um vídeo divulgado neste sábado mostra o refém israelense Evyatar David, de 24 anos, visivelmente desnutrido e cavando o que ele próprio descreve como sua "própria cova". A gravação, com duração de quase cinco minutos, foi enviada pelo Hamas à família do jovem, que a tornou pública no mesmo dia em que parentes de reféns se reuniram com o enviado dos Estados Unidos, Steve Witkoff, para exigir esforços pela libertação dos sequestrados.
No vídeo, gravado em um túnel estreito, Evyatar relata que tem sobrevivido comendo apenas feijão ou lentilhas, e por vezes nada. Ele conta ter passado dois a três dias seguidos sem qualquer alimento. Ao fim da gravação, uma mensagem de texto do Hamas afirma: "Somente um acordo de cessar-fogo os trará [os reféns] de volta."
A família do refém acusou o Hamas de usar o jovem como instrumento de propaganda. "Estão transformando nosso filho em uma cobaia viva em uma campanha cruel de fome", declararam os parentes em nota. "Ele está sendo deliberadamente privado de comida para servir aos interesses do Hamas", completaram.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, também se pronunciou, dizendo que o mundo não pode ignorar as imagens que evidenciam o sofrimento dos reféns, submetidos, segundo ele, a abusos sádicos, incluindo a fome.
Witkoff fala em fim da guerra, mas Hamas nega desarmamento
Durante o encontro com familiares dos sequestrados, o enviado dos EUA, Steve Witkoff, afirmou que Washington trabalha em um plano para encerrar o conflito. Em áudio obtido pela agência Reuters, Witkoff revelou que os Estados Unidos possuem uma proposta para reconstruir Gaza, o que, segundo ele, representaria "na prática, o fim da guerra".
Ainda segundo o americano, haveria disposição do Hamas em se desarmar como parte do acordo. O grupo palestino, no entanto, respondeu que não abrirá mão da luta armada sem antes alcançar um Estado palestino soberano, com Jerusalém como capital.
A reunião não agradou parte dos presentes, que consideraram vagos os avanços nas negociações. Logo após o encontro, familiares organizaram mais uma manifestação em Tel Aviv, cobrando ação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Chegou a hora de apresentar um acordo abrangente que encerre a guerra e traga os reféns de volta", disse Einav Zangauker, mãe de um dos sequestrados, com cidadania israelense e americana.
Israel se retirou das conversas de cessar-fogo, alegando falta de disposição do Hamas em avançar nas tratativas.
Palestinos mortos perto de centros de ajuda em Gaza
No mesmo dia, pelo menos dez pessoas foram mortas por disparos feitos nas proximidades de dois pontos de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), segundo autoridades locais. Os ataques aconteceram menos de 24 horas após a visita de Witkoff a um desses centros e elogios do embaixador americano ao trabalho da GHF.
Ainda segundo autoridades de saúde de Gaza, outras 19 pessoas morreram ao se aglomerarem nas imediações da passagem de Zikim, também em busca de suprimentos. O chefe do serviço de emergência, Fares Awad, relatou que soldados israelenses atiraram contra a multidão. Uma testemunha, Mohamed Abu Taha, disse ter visto duas mulheres e um homem baleados enquanto fugiam.
O exército de Israel afirmou não ter conhecimento de disparos de suas tropas nessas áreas. A GHF declarou que não houve incidentes em seus centros e que apenas foram utilizados spray de pimenta e tiros de advertência para dispersar aglomerações.
Alemanha considera ajuda humanitária ainda insuficiente
Mesmo após o anúncio israelense de pausas humanitárias e lançamentos aéreos de suprimentos, o governo alemão criticou a quantidade de ajuda que chega à Faixa de Gaza. Segundo nota do porta-voz Stefan Kornelius, o volume atual é "muito insuficiente" diante da situação crítica da população.
A Organização das Nações Unidas também afirma que o número de caminhões com mantimentos está muito abaixo dos 500 a 600 necessários diariamente. Nas últimas semanas, dezenas morreram por desnutrição no enclave, sete apenas nas últimas 24 horas.
Bombardeios seguem mesmo com pressão internacional
Apesar da crescente pressão por um acordo, os ataques israelenses continuam. O chefe do exército de Israel, Eyal Zamir, declarou que os combates não cessarão até que todos os reféns sejam libertados.
O Hospital Nasser registrou cinco mortes em consequência de bombardeios contra tendas que abrigavam deslocados no sul de Gaza. Outras vítimas foram identificadas após um ataque a uma casa entre Zawaida e Deir al-Balah, que matou um casal e três filhos. Em Khan Younis, uma mãe e sua filha morreram após outro bombardeio atingir uma tenda.