No coração do Parque Nacional Žemaitija, no oeste da Lituânia, entre pinheiros densos e paisagens tranquilas, esconde-se uma das estruturas mais emblemáticas da Guerra Fria: a antiga base de mísseis de Plokštin?. Construída em absoluto sigilo pela União Soviética, a instalação subterrânea permaneceu desconhecida pelos Estados Unidos até 1978. Hoje, ela é o principal atrativo do Museu da Guerra Fria e recebeu 35 mil visitantes em 2024.
Localizada estrategicamente em uma área remota, próxima ao Lago Plateliai, a base foi erguida entre 1960 e 1962, mobilizando mais de 10 mil trabalhadores de diferentes repúblicas soviéticas. O local abrigava ogivas nucleares apontadas para alvos na Europa Ocidental, fazendo da Lituânia Ocidental uma das regiões mais militarizadas do bloco soviético durante o período.
Quatro cúpulas brancas, que abrigavam os silos subterrâneos, ainda se destacam no cenário verde da floresta. O principal silo, com 30 metros de profundidade, permanece intacto e é uma das atrações mais impressionantes do museu. No interior da base, os visitantes percorrem corredores escuros repletos de relíquias soviéticas: bustos de Lênin e Stálin, medalhas, cartazes de propaganda e bandeiras com o símbolo da foice e do martelo.
A antiga guia local Aušra Brazdeikyt?, nascida em uma vila próxima, lembra que os moradores não sabiam exatamente o que era armazenado na base, mas sabiam de sua existência. Soldados conviviam com os locais nas fazendas coletivas, embora qualquer conversa sobre o tema fosse perigosa durante o regime soviético. “Fazer perguntas erradas poderia custar caro”, lembra ela.
Mesmo com a vigilância intensa e uma cerca elétrica de 3 quilômetros ao redor da instalação, os norte-americanos só identificaram a base 16 anos após sua conclusão, através de imagens de satélite. Naquele momento, o local já estava desativado, como parte dos acordos de desarmamento nuclear firmados entre Estados Unidos e União Soviética.
O passeio pelo complexo também mostra o lado sombrio da estrutura. Relatos incluem acidentes trágicos, como a morte de um soldado durante uma inspeção de rotina e o falecimento de dois outros durante um vazamento de ácido nítrico enquanto abasteciam um dos mísseis. No centro do complexo, a antiga usina de energia permanece como um esqueleto metálico, lembrando os cenários de jogos pós-apocalípticos.
Ao lado da base está o que restou de uma cidade militar sem nome, que chegou a abrigar 300 soldados. Curiosamente, após a desativação da base, parte dos edifícios foi convertida em um acampamento de verão infantil chamado Žuv?dra — “gaivota” em lituano — que funcionou entre 1979 e 1990. Hoje, os galpões cobertos por musgo e lama se assemelham a ruínas de antigas pirâmides perdidas entre as árvores.
O contraste entre a instalação militar abandonada e a natureza exuberante do entorno simboliza a transformação da Lituânia. O país, que durante décadas esteve sob domínio soviético, decidiu preservar essa cicatriz da Guerra Fria como forma de educação e reflexão histórica, convertendo uma base de destruição em um centro de memória e aprendizado.