A desvalorização dos imóveis na zona rural do município de Craíbas, no Agreste alagoano, já chega a 50%, reflexo direto das rachaduras identificadas em 114 residências e armazéns agrícolas nas comunidades de Sítio Lagoa do Mel, Riacho Fundo, Torrões, Pau Ferro, Lagoa do Félix, Capim, entre outras localidades. As fissuras afetam pisos, tetos e paredes, comprometendo a estrutura dos imóveis e provocando temor entre os moradores.
Relatório da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Alagoas (Cepdec/AL), divulgado após vistorias realizadas em março de 2024, aponta indícios de que as explosões promovidas na mina de cobre, ferro e ouro, localizada no Povoado Serrote da Laje, podem estar na origem dos danos. O local abriga a operação da Mineradora Vale Verde (MVV), recentemente adquirida pelo grupo chinês Baiyin Nonferrous por R$ 2,3 bilhões. Os minérios extraídos da região têm como destino o mercado asiático.
Moradores relatam impactos além das rachaduras, como tremores de terra, barulho constante, poeira no ar, morte de animais e aumento de casos de doenças respiratórias. O líder comunitário Tancredo Barbosa denunciou que diversas famílias vivem em condições de insegurança, temendo desabamentos e convivendo com a fuga de moradores e a desvalorização total dos imóveis. Um exemplo citado foi o de um agricultor que investiu R$ 120 mil na construção de uma casa em 2022 e, após fracassar ao tentar vendê-la por R$ 150 mil, conseguiu negociá-la somente em 2025 por R$ 60 mil.
Defensoria Pública aciona Justiça por omissão da Prefeitura de Craíbas
Diante do agravamento da situação, a Defensoria Pública do Estado de Alagoas ingressou, no mês passado, com uma Ação Civil Pública contra o município de Craíbas. A ação cobra maior transparência na destinação dos recursos provenientes da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e exige a adoção de medidas urgentes para mitigar os danos causados à população.
O processo, em andamento desde junho deste ano, solicita que a Prefeitura apresente prestação de contas detalhada dos recursos já recebidos e elabore um plano de investimento direcionado à garantia de direitos básicos, como saúde, educação, moradia, segurança e lazer. O plano deve incluir ainda medidas preventivas, como a realocação de famílias residentes em áreas de risco iminente.
A Defensoria também pede a condenação do município ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, alegando omissão na aplicação correta dos recursos e negligência em proteger as comunidades afetadas. A defensora pública Brígida Barbosa, do Núcleo de Proteção Coletiva de Arapiraca, destacou a importância de aplicar os valores da CFEM de forma responsável e com foco no desenvolvimento sustentável.
A Prefeitura de Craíbas ainda não se pronunciou oficialmente sobre a ação judicial.
Atividade mineradora cresce e desperta preocupações
Craíbas tornou-se um dos principais polos de mineração de Alagoas, com destaque para a extração de cobre. Desde o início das operações comerciais da MVV, em 2021, a Mina Serrote já exportou mais de 300 mil toneladas secas de concentrado de cobre para países como China, Finlândia, Tailândia, Índia e Polônia.
Com reservas estimadas em 52,7 milhões de toneladas, a mina opera em lavra a céu aberto e, com novos estudos em andamento, a expectativa é de que sua vida útil seja estendida de 14 para 20 anos. A expansão ocorre após a aquisição da MVV pelo grupo chinês Baiyin Nonferrous.
A empresa, por sua vez, nega qualquer relação entre as explosões e os tremores de terra registrados na região. Em nota, a MVV afirma seguir rigorosamente os padrões legais brasileiros e as melhores práticas internacionais de ESG, com monitoramento ambiental constante.