Secas prolongadas, uso intensivo de águas subterrâneas e chuvas cada vez mais intensas estão acelerando o aparecimento das chamadas voçorocas — crateras gigantescas que surgem repentinamente e colocam em risco vidas e propriedades. Em Buriticupu, município do Maranhão, a situação é tão grave que a prefeitura decretou estado de calamidade pública após enormes fendas ameaçarem mais de mil moradores.
Essas crateras não são exclusividade do Brasil. Fenômenos semelhantes têm sido registrados nos Estados Unidos, Turquia, Irã e México, surgindo de forma súbita em áreas urbanas e rurais. As voçorocas são depressões provocadas pela erosão do solo, que pode ocorrer naturalmente com a chuva ou ser agravada por ações humanas, como vazamentos em tubulações, mineração e fraturamento hidráulico (fracking).
Segundo o professor Hong Yang, da Universidade de Reading, no Reino Unido, essas crateras tendem a surgir com maior frequência em regiões com terrenos cársticos — solos formados por rochas solúveis como calcário, sal ou gesso. Ele afirma que as mudanças climáticas têm intensificado o problema, ao combinar longos períodos de estiagem com eventos de chuvas intensas.
“O rebaixamento do lençol freático causado pela seca remove o suporte do solo. Quando ocorre uma tempestade, a saturação repentina pode levar ao colapso da superfície”, explica Yang. Um exemplo está na Planície de Konya, na Turquia, onde o número de crateras saltou de um ou dois casos por ano, antes dos anos 2000, para 42 apenas em 2024. Nessa região, o nível da água subterrânea já caiu mais de 60 metros desde 1970.
A combinação entre mudanças climáticas e uso desenfreado da água também eleva o risco em áreas povoadas, comprometendo a estabilidade de construções. Antonios Marsellos, professor da Universidade Hofstra, em Nova York, compara o fenômeno ao ato de sugar um suco muito rápido: “as laterais cedem, como o solo sem apoio hídrico”.
Estudos de Marsellos mostram que, em cidades como Nova York, a poluição atmosférica também colabora para o problema. A água da chuva, ao reagir com poluentes, torna-se mais ácida, acelerando a decomposição das rochas e, consequentemente, a formação de crateras.
Apesar da gravidade, há formas de prevenir os desabamentos. Tecnologias como radares de penetração no solo e sensoriamento remoto por satélite ajudam a identificar depressões antes que desabem. Outras ações envolvem o monitoramento do nível do lençol freático e levantamentos técnicos antes de novas construções.
Caso ocorra a identificação de uma cavidade subterrânea, ela pode ser preenchida com cimento, conforme explicam especialistas. Na Bacia de Konya, onde a agricultura consome mais de 80% da água disponível, técnicas de irrigação mais eficientes estão sendo adotadas. A região também passou a contar com projetos de transferência hídrica, como o Túnel Azul, que leva água do rio Goksu para reabastecer o solo.
Além disso, medidas como controle da drenagem, conserto de vazamentos e normas rigorosas de construção são fundamentais. Segundo Yang, o uso de tecnologias como geogrelhas, injeção de argamassa e compactação do solo podem ajudar a reforçar o terreno e evitar desastres.