A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros já está afetando o mercado interno, especialmente no setor agroexportador. O Brasil, principal fornecedor de carnes, frutas, café e suco de laranja aos norte-americanos, sente os primeiros impactos da tensão comercial, mesmo antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto.
Entre os dias 24 de junho e 21 de julho, os preços das carnes no atacado brasileiro registraram queda de 7,8%, reflexo da retração nas encomendas por parte dos Estados Unidos. A arroba do boi gordo seguiu a mesma tendência, com recuo de 7,5%. A queda se soma a um processo de desaceleração iniciado após o pico de quase 21% no ano anterior, e tende a se acentuar com a realocação da produção que antes era destinada ao mercado externo.
As frutas também apresentam recuo nos preços, impulsionado pelo mesmo cenário. A expectativa é que essa redução no atacado chegue aos consumidores já em agosto, aliviando temporariamente os custos com alimentos.
Em contrapartida, o café segue em alta. Os contratos futuros dispararam na Bolsa de Nova York, refletindo a possibilidade de escassez e abertura de novas janelas de exportação a preços mais elevados. Essa valorização internacional já começa a se refletir no mercado interno brasileiro, revertendo uma tendência de baixa observada nas semanas anteriores.
Segundo o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Cepea/USP, os aumentos nos preços do café no Brasil acompanham esse movimento externo. Ele explica que, embora ainda seja cedo para afirmar uma relação direta com as tarifas anunciadas por Trump, o mercado já reage à expectativa de novos custos e mudanças na demanda global.
Especialistas evitam afirmar que a oscilação nos preços seja totalmente decorrente do tarifaço, mas reconhecem uma ligação evidente entre a incerteza comercial e o atual comportamento dos preços no setor agropecuário.