Impulsionada pelos juros elevados e pelo baixo volume de vencimentos de títulos, a Dívida Pública Federal (DPF) ultrapassou pela primeira vez a marca de R$ 7,8 trilhões. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Tesouro Nacional, o valor passou de R$ 7,67 trilhões em maio para R$ 7,883 trilhões em junho, representando um aumento de 2,77%.
Em junho do ano anterior, a dívida havia ultrapassado a marca de R$ 7 trilhões. Apesar da elevação recente, o valor segue dentro das projeções do Plano Anual de Financiamento (PAF), que estima que o estoque da DPF fique entre R$ 8,1 trilhões e R$ 8,5 trilhões ao fim de 2025.
A Dívida Pública Mobiliária interna (DPMFi), composta por títulos emitidos no mercado doméstico, teve alta de 2,99%, passando de R$ 7,361 trilhões em maio para R$ 7,581 trilhões em junho. No mês, o Tesouro Nacional emitiu R$ 154,62 bilhões líquidos, principalmente em títulos prefixados. Além disso, houve uma apropriação de R$ 65,13 bilhões em juros, valor que se soma ao estoque da dívida mensalmente e reflete a correção dos títulos, pressionada pela taxa Selic atualmente fixada em 15% ao ano.
No total, o Tesouro emitiu R$ 161,31 bilhões em títulos da DPMFi em junho, enquanto os resgates somaram apenas R$ 6,69 bilhões, devido ao baixo volume de vencimentos no período.
A Dívida Pública Federal externa (DPFe), em contrapartida, registrou queda de 2,28%, saindo de R$ 309,17 bilhões em maio para R$ 302,12 bilhões em junho, influenciada pela desvalorização de 4,41% do dólar no período.
O colchão da dívida, que é a reserva financeira usada para situações de instabilidade ou concentração de vencimentos, voltou a crescer após uma redução em maio. Essa reserva aumentou de R$ 861 bilhões para R$ 1,03 trilhão em junho, o maior nível desde julho de 2024, impulsionada pela forte emissão líquida registrada. Esse valor garante cobertura para 8,44 meses de vencimentos da dívida pública, sendo que R$ 1,236 trilhão vencerá nos próximos 12 meses.
A composição da dívida teve poucas alterações. A participação de títulos atrelados à inflação recuou de 26,64% para 26,45%, dentro da faixa prevista pelo PAF para o ano, entre 24% e 28%. Já os títulos prefixados cresceram de 21,1% para 21,57%, também dentro do intervalo projetado, de 19% a 23%.
Esses papéis, com rendimento definido na emissão, oferecem maior previsibilidade, mas costumam ter menor aceitação em momentos de instabilidade, quando investidores exigem juros mais altos. A fatia dos títulos atrelados à Selic variou levemente de 48,25% para 48,16%, dentro da meta de 48% a 52%, enquanto a participação de papéis vinculados ao câmbio caiu de 4,02% para 3,82%, mantendo-se dentro do limite de 3% a 7% estabelecido pelo PAF.
O prazo médio da DPF caiu de 4,20 para 4,14 anos, representando o tempo médio que o governo leva para refinanciar sua dívida. Quanto maior esse prazo, maior a confiança do mercado na capacidade do governo de honrar seus compromissos.
As instituições financeiras seguem liderando entre os detentores da dívida interna, com 31,3% de participação. Em seguida, vêm os fundos de pensão (23,1%) e os fundos de investimento (22,1%). Já os estrangeiros detêm 9,8% da dívida, percentual ligeiramente inferior aos 9,9% de maio. Em novembro de 2024, a participação externa chegou a 11,2%, o maior patamar desde maio de 2018. Os demais grupos somam 13,6% da dívida.
Através da dívida pública, o governo capta recursos junto ao mercado para custear despesas, comprometendo-se a devolver os valores no futuro com correções que podem ser vinculadas à Selic, à inflação, ao câmbio ou previamente definidas.