O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou nesta sexta-feira (25) que seu governo está considerando “opções alternativas” às conversações de cessar-fogo com o Hamas, após a retirada das equipes de negociação israelense e americana de Doha, no Catar, lançando novas incertezas sobre o futuro do diálogo para pôr fim à guerra em Gaza.
A retirada das delegações ocorreu na quinta-feira, e o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, justificou a decisão afirmando que a mais recente resposta do Hamas às propostas apresentadas demonstrava “falta de vontade” para alcançar um acordo de trégua. Netanyahu ecoou essa posição e afirmou que o Hamas continua sendo “o obstáculo” para um pacto que leve à libertação dos reféns.
“Estamos avaliando, junto aos nossos aliados americanos, alternativas para trazer nossos reféns de volta, pôr fim ao domínio terrorista do Hamas e garantir uma paz duradoura para Israel e a região”, declarou o premiê, sem detalhar quais seriam essas alternativas.
Apesar disso, o grupo Hamas afirmou que foi informado de que os negociadores israelenses haviam retornado a Tel Aviv apenas para consultas e que deveriam voltar à mesa de negociação na próxima semana. O representante do Hamas, Bassem Naim, sugeriu que as declarações americanas tinham como objetivo pressionar o grupo e favorecer Netanyahu no processo.
Segundo o Hamas, houve avanços recentes nas discussões, incluindo pontos sobre o cronograma do cessar-fogo, garantias de continuidade nas negociações para um acordo permanente e a logística da ajuda humanitária.
O plano em negociação prevê inicialmente uma trégua de 60 dias, durante a qual o Hamas libertaria dez reféns vivos e entregaria os corpos de outros 18, em troca da libertação de prisioneiros palestinos por Israel. Ao mesmo tempo, a assistência humanitária seria ampliada e as partes discutiriam um cessar-fogo permanente.
No entanto, as exigências conflitantes continuam a travar um entendimento. O Hamas insiste que só libertará todos os reféns mediante uma retirada total das tropas israelenses e o fim da guerra. Já Tel Aviv não aceita encerrar a operação enquanto o Hamas não deixar o poder e não for desarmado. O grupo se diz disposto a deixar o governo, mas não a entregar seu arsenal.
Estima-se que o Hamas mantenha cerca de 50 reféns em Gaza, espalhados por diferentes locais, inclusive túneis subterrâneos. Há suspeitas de que menos da metade ainda esteja viva, e o grupo teria alertado seus combatentes para matar os cativos caso tropas israelenses se aproximem.
Enquanto isso, famílias dos reféns demonstram crescente frustração com a lentidão e as interrupções nas negociações. Yehuda Cohen, pai de um dos sequestrados, desabafou: “Quando soube que a equipe israelense voltaria de Doha, me perguntei: quando esse pesadelo vai acabar?”
Além do impasse político, o agravamento da situação humanitária em Gaza eleva a pressão internacional. A fome entre os mais de 2 milhões de habitantes se intensificou, e as mortes por desnutrição aumentaram nos últimos dias. Organizações humanitárias relatam dificuldades até mesmo para alimentar seus próprios funcionários, devido ao bloqueio imposto por Israel e às restrições no novo modelo de distribuição de ajuda.
Mais de duas dezenas de países ocidentais e cerca de 100 organizações humanitárias já se manifestaram exigindo o fim imediato do conflito e condenando duramente as ações israelenses em Gaza.