Crianças com menos de 13 anos que utilizam smartphones apresentam maior propensão a pensamentos suicidas, queda na autoestima, comportamento agressivo e afastamento da realidade, segundo um estudo global publicado no Journal of the Human Development and Capabilities. A pesquisa alerta que o acesso precoce a celulares pode comprometer a saúde mental de forma significativa, com efeitos mais pronunciados entre meninas.
O levantamento foi conduzido pela organização sem fins lucrativos Sapien Labs, com base nas respostas de 100 mil jovens entre 18 e 24 anos. Eles relataram seu estado de saúde mental a partir de 47 indicadores sociais, emocionais, cognitivos e físicos, formando uma pontuação geral de bem-estar. Os resultados mostraram uma queda drástica na pontuação de saúde mental quanto mais cedo o primeiro contato com o smartphone aconteceu. Jovens que receberam o aparelho aos cinco anos, por exemplo, apresentaram pontuações próximas de 1, enquanto aqueles que o receberam aos 13 anos pontuaram em média 30.
Além dos problemas emocionais, o uso precoce de smartphones também foi associado a distúrbios do sono, aumento de casos de cyberbullying e deterioração das relações familiares. As meninas mostraram-se mais afetadas: 9,5% disseram estar enfrentando dificuldades graves com a saúde mental, contra 7% dos meninos — uma tendência observada independentemente do país de origem.
Para a autora do estudo, Tara Thiagarajan, o impacto dos smartphones em mentes em desenvolvimento é tão nocivo que deveria ser regulado como ocorre com o álcool e o tabaco. Ela defende a proibição do uso desses dispositivos por menores de 13 anos e propõe ainda restrições ao acesso às redes sociais, educação obrigatória em alfabetização digital e responsabilização das empresas de tecnologia. "A princípio, me surpreendi com a intensidade dos dados", declarou. "Mas, refletindo, é compreensível que crianças pequenas, mais vulneráveis e com pouca vivência, sejam mais afetadas pelo ambiente digital."
Atualmente, várias proibições ao uso de celulares estão sendo implementadas em escolas de países europeus. França, Países Baixos, Itália, Luxemburgo e algumas regiões da Espanha já vetaram completamente o uso de smartphones em todas as escolas. Outros países como Irlanda, Grécia, Bélgica, Finlândia, Suécia e Letônia têm restrições parciais nas salas de aula. Portugal, por sua vez, vai proibir o uso desses aparelhos nos dois primeiros ciclos do ensino a partir do próximo ano letivo.
No campo legislativo, a União Europeia também discute medidas para proteger crianças nas plataformas digitais. Propostas incluem a proibição do uso de redes sociais por menores de 15 anos, além da criminalização da produção de conteúdo abusivo com inteligência artificial, do assédio online e da exposição infantil em transmissões ao vivo. As legislações vigentes, como a Lei dos Serviços Digitais e o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), já contemplam ações voltadas à proteção de menores contra conteúdos prejudiciais e à preservação da privacidade.