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Saúde
23/07/2025 11:00:00

Quando a comoção vira alerta: por que o câncer colorretal atinge cada vez mais jovens

Quando a comoção vira alerta: por que o câncer colorretal atinge cada vez mais jovens

A morte recente da cantora Preta Gil, aos 50 anos, vítima de um câncer colorretal metastático, trouxe à tona uma realidade preocupante: o aumento expressivo desse tipo de câncer em pessoas com menos de 50 anos. Dados apresentados no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO 2025) apontam que os diagnósticos entre adultos jovens têm crescido cerca de 2% ao ano, já representando 12% de todos os novos casos nos Estados Unidos. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 45 mil novos diagnósticos anuais entre 2023 e 2025, tornando esse o terceiro câncer mais comum no país.

Durante muito tempo, o câncer colorretal foi associado ao envelhecimento, com os protocolos de rastreamento iniciando aos 50 anos. Com isso, sintomas em pessoas mais jovens eram frequentemente negligenciados ou confundidos com problemas como gastrite, síndrome do intestino irritável ou estresse. O resultado é um número crescente de diagnósticos tardios, quando a doença já se encontra em estágios avançados.

Apesar de ainda não se saber com exatidão por que os casos estão aumentando entre jovens, pesquisadores apontam possíveis fatores como alterações na microbiota intestinal — incluindo a colibactina, uma toxina bacteriana capaz de danificar o DNA —, uso recorrente de antibióticos, obesidade, consumo de alimentos ultraprocessados, sedentarismo e até a exposição a microplásticos. A genética isoladamente não explica o aumento dos casos nessa faixa etária.

Contrariando o senso comum, estudos indicam que os tumores em jovens não são biologicamente mais agressivos do que em adultos mais velhos, mas sim detectados mais tarde, o que resulta em apresentações mais severas. Isso reforça a importância de estar atento a sintomas como alterações do hábito intestinal, sangramentos nas fezes, dores abdominais persistentes e fadiga incomum, mesmo antes dos 45 anos — idade a partir da qual o rastreamento com colonoscopia já foi antecipado nos Estados Unidos e em práticas clínicas no Brasil.

Diante desse cenário, especialistas defendem a ampliação do acesso a exames simples, como o teste de sangue oculto nas fezes, a revisão dos protocolos de rastreamento e campanhas de conscientização voltadas especialmente para o público mais jovem. Cada caso diagnosticado precocemente representa uma chance real de cura e preservação de vidas em pleno curso.

A dor causada por perdas como a de Preta Gil pode e deve se transformar em um alerta coletivo. Identificar sintomas a tempo e buscar avaliação médica pode significar não apenas salvar uma vida, mas também garantir o futuro de famílias inteiras que dependem desses jovens. Prevenir e diagnosticar precocemente é um compromisso com as vidas que ainda podem ser protegidas.