Redução do IPI de ‘carro popular’ é alívio para indústria e novo revés a locadoras

O mercado de automóveis no Brasil deve ser impulsionado com a recente redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros mais eficientes e para modelos compactos 1.0 produzidos no país, os antigos "carros populares". A medida, aprovada pelo governo federal, beneficia principalmente grandes montadoras como Stellantis, Volkswagen, General Motors e Hyundai, que fabricam carros de entrada.

Com essa mudança, os consumidores poderão comprar carros mais baratos, mas as locadoras de veículos enfrentam um novo desafio. O impacto mais significativo será a queda nos preços dos seminovos, o que afeta diretamente a rentabilidade das locadoras. Segundo fontes da Bloomberg Línea, enquanto as locadoras desaceleraram as compras devido aos juros altos e aos preços elevados dos carros, a redução do IPI para carros novos pressiona os preços dos usados, obrigando as locadoras a vender seus veículos seminovos por valores inferiores aos esperados.

O programa Mover, que incentiva a produção de veículos com maior eficiência energética, tem como objetivo estimular os investimentos em pesquisa e promover a transição energética da frota brasileira. O decreto recente introduziu o conceito de "carro sustentável", zerando o IPI para modelos compactos 1.0 que atendam a requisitos de emissões, materiais recicláveis e produção local. A medida deve beneficiar modelos como Fiat Mobi e Renault Kwid, com uma redução de 3% a 5% no preço final.

A iniciativa já resultou em campanhas de descontos das montadoras, que repassaram integralmente os benefícios da isenção do IPI, elevando os descontos oferecidos aos consumidores para até 13% em alguns casos. No entanto, essa redução de preços, embora beneficie o consumidor final, pressiona as locadoras, que poderão ter que vender seus carros seminovos por valores mais baixos devido à queda nos preços dos modelos novos.

Embora o setor automotivo tenha se beneficiado de políticas semelhantes no passado, o consultor Cassio Pagliarini alerta que as locadoras enfrentarão uma maior depreciação de seus veículos seminovos, o que afetará suas margens de lucro. Além disso, ele observa que o impacto da redução do IPI será mais político do que econômico, dado o atual cenário de juros elevados e a baixa demanda por carros novos.

As locadoras, já em dificuldades devido ao alto custo de renovação da frota e ao impacto da taxa de juros, terão que ajustar suas expectativas em relação aos preços dos seminovos e à rentabilidade de suas operações.