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21/07/2025 20:00:00

EUA poderiam bloquear GPS no Brasil? Entenda como funciona o sistema e o que dizem os especialistas

EUA poderiam bloquear GPS no Brasil? Entenda como funciona o sistema e o que dizem os especialistas

Com o agravamento das tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos após sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro passaram a especular a possibilidade de medidas mais duras por parte do governo americano, incluindo o bloqueio do uso do sistema de GPS em território brasileiro.

A medida, no entanto, é considerada extremamente improvável por especialistas consultados pela BBC News Brasil, tanto pela complexidade técnica quanto pelas implicações diplomáticas de longo prazo.

Como funciona o GPS?

O GPS (Global Positioning System) é um sistema de posicionamento global criado pelo Departamento de Defesa dos EUA nos anos 1970, originalmente para fins militares. Hoje, é amplamente utilizado por civis em todo o mundo para navegação terrestre, aérea e marítima, bem como em setores como telecomunicações, logística, monitoramento ambiental, controle de tráfego e até no sistema financeiro.

Atualmente, 31 satélites compõem a constelação do GPS, orbitando a Terra de forma a garantir que pelo menos quatro estejam sempre visíveis de qualquer ponto do planeta — o mínimo necessário para determinar a localização exata de um receptor.

O sistema transmite sinais unidirecionais do espaço para a Terra, que são captados por celulares, carros e outros dispositivos. Esses sinais não são direcionados a um país específico, o que dificulta qualquer bloqueio seletivo sem afetar regiões vizinhas ou até os próprios Estados Unidos.

É possível bloquear o GPS em um país?

Segundo Eduardo Tude, engenheiro especializado em telecomunicações, é tecnicamente inviável bloquear o sinal do GPS apenas para o Brasil. “Os satélites transmitem para todos. Para cortar o sinal de um país isoladamente, seria preciso mudar toda a forma como o sistema é projetado. Seria como tentar bloquear um canal de TV aberta em uma única casa sem afetar as outras ao redor”, afirma.

Além disso, qualquer alteração na disponibilidade do sinal afetaria usuários civis no mundo todo, gerando repercussões diplomáticas e econômicas indesejadas.

No entanto, existem formas localizadas de interferência, como o jamming, que consiste em emitir sinais de rádio na mesma frequência dos satélites para neutralizar o sinal original. Essa prática já foi registrada em zonas de conflito, como na guerra da Ucrânia, e exige presença física no território onde se quer interferir — o que caracterizaria um ato de sabotagem.

Outra técnica é o spoofing, que engana os receptores com sinais falsos, fazendo com que apontem localizações incorretas. Ambas são utilizadas principalmente em estratégias militares e requerem equipamentos específicos no solo.

Impactos e alternativas

Caso ocorresse uma interrupção do GPS, setores essenciais como transportes, energia, telecomunicações e bancos seriam diretamente afetados, uma vez que dependem da sincronização precisa fornecida pelo sistema.

Mesmo assim, Luísa Santos, engenheira especializada em sistemas espaciais, considera remota a hipótese de um bloqueio. “Os Estados Unidos têm acordos diplomáticos e comerciais de longa data com o Brasil. Romper unilateralmente o acesso ao GPS civil seria um custo político alto demais”, avalia.

Ela lembra ainda que, apesar de o GPS ainda ser o sistema de posicionamento mais utilizado no mundo, existem alternativas operacionais, como o russo GLONASS, o chinês BeiDou, o europeu Galileo e o indiano NavIC, que são compatíveis com a maioria dos dispositivos modernos.

Além dos sistemas de satélite, há redes terrestres de backup, como o eLoran, utilizadas por alguns países para garantir posicionamento mesmo sem sinal espacial.

Conclusão: cenário improvável, mas não impossível

Embora tecnicamente os EUA mantenham o controle do GPS e possam restringir seu uso em áreas específicas por motivos militares, fazer isso contra o Brasil seria logisticamente difícil e estrategicamente arriscado. Além disso, a interoperabilidade entre sistemas e a existência de alternativas torna improvável que uma eventual ação cause um apagão completo de geolocalização.

“Ainda que seja possível degradar o sinal civil, não se trata de apertar um botão e desligar tudo. É uma decisão extremamente sensível, com implicações globais”, afirma a astrofísica Ana Apleiade. Para ela, mesmo em cenários extremos, “o mundo não ficaria no escuro”.