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Padre Cícero, uma das figuras mais icônicas da história religiosa e cultural do Brasil, nasceu em Crato, Ceará, no dia 24 de março de 1844. Filho de Joaquim Batista e Dona Joaquina Romana, desde jovem demonstrou sua devoção religiosa. Aos 12 anos, fez voto de castidade, inspirado pela leitura sobre a vida de São Francisco de Sales. Em 1860, começou seus estudos e, aos 16 anos, foi para Cajazeiras, na Paraíba, para estudar, mas precisou interromper os estudos em 1862 devido à morte de seu pai. Com a morte do pai, voltou para sua cidade natal para ajudar sua mãe e suas irmãs.
Em 1865, ingressou no seminário de Fortaleza, onde foi ordenado sacerdote em 30 de novembro de 1870. Após a ordenação, Cícero retornou ao Crato, onde aguardava uma paróquia. Durante esse período, lecionou Latim no Colégio local. Sua mudança para Juazeiro em 1871, atraído pelo povo simples e pela promessa de uma nova missão, mudou sua vida e a vida da comunidade.
Mudança para Juazeiro e Apostolado
No Natal de 1871, Padre Cícero conheceu o povoado de Juazeiro e, impressionado, decidiu voltar em 1872 para estabelecer-se lá com sua família. Alguns biógrafos afirmam que sua mudança foi inspirada por um sonho em que viu Jesus Cristo ordenando-lhe que cuidasse do povo que chegava. Em Juazeiro, o sacerdote dedicou-se à reforma da capelinha local e ao trabalho pastoral, incluindo pregação, aconselhamento e visitas domiciliares, o que rapidamente conquistou a simpatia do povo.
Padre Cícero procurou moralizar a comunidade, erradicando a prostituição e o alcoolismo. Ele também formou uma irmandade leiga para ajudar no trabalho pastoral. Com o crescimento da comunidade, Juazeiro tornou-se um centro de devoção religiosa, e Padre Cícero passou a ser visto como uma liderança moral e religiosa.
O Milagre da Hóstia e a Polêmica com a Igreja
O grande evento que marcou a vida de Padre Cícero ocorreu no dia 1º de março de 1889, quando a beata Maria de Araújo, ao receber a comunhão, viu a hóstia se transformar em sangue. O fenômeno repetiu-se em outras ocasiões, levando o povo a acreditar que se tratava de um milagre divino. A situação foi investigada por médicos e uma comissão eclesiástica. Enquanto médicos atestaram que o fato não tinha explicação científica, a Igreja Católica, influenciada por autoridades contrárias à ideia de milagre, rejeitou o evento e suspendeu Padre Cícero de sua função sacerdotal.
A Vida Política e a Relacionamento com Lampião
Com a suspensão da ordem sacerdotal, Padre Cícero se voltou para a política, atendendo ao clamor do povo por emancipação política de Juazeiro. Em 1911, a cidade conquistou a independência política, e Padre Cícero foi nomeado prefeito, além de ter sido indicado para vice-governador do Ceará, embora não tenha ocupado o cargo. Durante a década de 1920, teve um encontro com o cangaceiro Lampião, aconselhando-o a deixar o cangaço, mas sempre negando ter dado-lhe a patente de capitão.
Legado e Devoção
Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos. Sua morte não diminuiu a fé e a devoção que o povo nutria por ele. Juazeiro cresceu ainda mais, tornando-se um importante centro de peregrinação, especialmente no Dia de Finados, quando milhares de romeiros visitam seu túmulo na Capela do Socorro.
Sua vida foi biografada em mais de duzentos livros, e ele é considerado um santo popular, embora não tenha sido canonizado pela Igreja Católica. Sua devoção e influência continuam a ser estudadas por cientistas sociais e admiradas por fiéis. Em 2001, Padre Cícero foi eleito "O Cearense do Século", reconhecendo sua contribuição religiosa e cultural ao Brasil. O lema de sua vida era "oração e trabalho", e seu grande milagre foi a transformação de Juazeiro, que se tornou uma das cidades mais importantes do interior do Ceará.