O empresário Nelson Tanure deu um passo importante rumo à aquisição do controle da Braskem, após obter aprovação sem restrições da Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na quarta-feira (16). A proposta prevê a compra indireta da fatia da Novonor (antiga Odebrecht), que detém 50,1% das ações com direito a voto e 38,3% do capital total da petroquímica.
Apesar do avanço regulatório, a negociação ainda enfrenta obstáculos significativos. Entre eles, o consentimento da Petrobras — que possui cerca de 36% do capital total da Braskem e divide com a Novonor a estrutura de controle da companhia — e a posição dos principais bancos credores da Novonor, como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e BNDES. Esses atores-chave ainda não endossaram a transação.
Um dos maiores entraves é o chamado “passivo Alagoas”, termo que se refere ao custo bilionário gerado pelo afundamento de cinco bairros em Maceió, consequência direta da exploração de sal-gema realizada pela Braskem ao longo de décadas. A empresa já provisionou mais de R$ 14 bilhões para lidar com as indenizações e reparações, mas o mercado teme novas ações judiciais e obrigações ambientais futuras, o que torna o negócio arriscado.
Mesmo assim, Tanure vê na Braskem uma oportunidade estratégica, considerando sua presença global, receitas expressivas e potencial de sinergia com diversos setores da indústria. A precaução dos credores, no entanto, se mantém, sobretudo diante da possibilidade de que o novo controlador herde os compromissos financeiros e judiciais relacionados à tragédia em Alagoas.
Como forma de conter qualquer mudança unilateral no controle da empresa, o Cade impôs uma limitação temporária ao poder de voto da Tanurepar, empresa do grupo Tanure. Até que haja consenso com os demais acionistas, sua participação votante ficará restrita a 5%, como medida cautelar.
Enquanto as negociações avançam nos bastidores empresariais e financeiros, Maceió ainda convive com os impactos da maior tragédia ambiental urbana do país. O episódio segue como um alerta para a responsabilidade corporativa e para o risco de que a população afetada seja deixada à margem das decisões tomadas em gabinetes executivos e conselhos administrativos.
Quem é Nelson Tanure
Nascido em Salvador em 1951, Nelson Sequeiros Rodriguez Tanure é um bilionário e empresário brasileiro conhecido por assumir o controle de empresas em crise e conduzir processos de reestruturação. Seu histórico inclui investimentos em setores como saúde, energia, petróleo e gás, telecomunicações, serviços industriais e mercado financeiro. Ele tem participações em companhias como Light, Alliança Saúde, Gafisa, PRIO, TIM Brasil, Docas Investimentos, Sequip e Ligga (que reúne antigas estatais como Copel Telecom e Sercomtel). Sua estratégia empresarial inclui também a compra de ativos estressados e a atuação em reestruturações corporativas.