O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta segunda-feira (14) que solicitou o apoio do papa Leão 14 para intervir na situação de 31 crianças venezuelanas que se encontram nos Estados Unidos. Segundo o governo venezuelano, esses menores foram separados de seus pais durante processos de deportação resultantes da política migratória adotada pela Casa Branca desde o início do mandato de Donald Trump, em janeiro.
Durante seu programa semanal de televisão, “Con Maduro+”, o presidente afirmou que uma carta foi entregue ao núncio apostólico em Caracas pedindo o envolvimento do pontífice como figura moral para defender os direitos das crianças, que, segundo ele, foram “sequestradas” nos Estados Unidos.
Essa é a segunda vez que o governo venezuelano denuncia esse tipo de caso. No início de julho, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, informou que 18 crianças estavam sob custódia americana. Na semana passada, o número subiu para 31, com idades entre 2 e 12 anos. Rodríguez declarou que a devolução dessas crianças é exigida diariamente, destacando que elas pertencem às suas famílias e ao povo venezuelano.
Na última sexta-feira (11), o ministro do Interior, Diosdado Cabello, informou que 203 venezuelanos foram deportados dos Estados Unidos na semana anterior. Entre eles estavam três mães cujos quatro filhos permaneceram detidos nos EUA. Cabello também comentou a prisão de 252 cidadãos venezuelanos em El Salvador, acusados de envolvimento com o grupo criminoso Trem de Aragua, e criticou o presidente salvadorenho Nayib Bukele por mantê-los em uma prisão de segurança máxima sem apresentar provas. Chamando-o de covarde, o ministro acusou Bukele de integrar um grupo que estaria “sequestrando venezuelanos”.
As deportações também têm gerado atritos entre o governo venezuelano e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, liderado por Volker Turk. A ONU, por meio de um relatório recente, afirmou que houve deterioração das liberdades fundamentais na Venezuela em 2024 e 2025, citando prisões arbitrárias durante os processos eleitorais. Em resposta, a Assembleia Nacional declarou Turk persona non grata, criticando a falta de posicionamento da ONU sobre os 252 venezuelanos detidos em El Salvador, que, segundo Caracas, estão em condições desumanas.
Durante sua campanha presidencial, Donald Trump prometeu ampliar as deportações de imigrantes irregulares. Para expulsar venezuelanos presos em El Salvador, utilizou a Lei de Inimigos Estrangeiros, alegando envolvimento com o Trem de Aragua, sem apresentar evidências. Maduro contestou a falta de direito à defesa dos deportados.
Em abril, El Salvador propôs trocar os 252 detidos venezuelanos por um número equivalente de presos salvadorenhos, proposta rejeitada pela Venezuela. A Suprema Corte dos EUA suspendeu temporariamente as deportações após um pedido da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), que processa o governo americano pela medida. Apesar de a Casa Branca ter aceitado a suspensão, solicitou ao mesmo tempo que ela fosse revogada.
Um tribunal federal dos EUA impediu a revogação do Status de Proteção Temporária (TPS), que beneficia cerca de 350 mil venezuelanos. Em março, a Venezuela retomou o recebimento de deportados após acordo com o diplomata Richard Grenell, mas voltou a suspender a cooperação após divergências com os EUA sobre a licença da Chevron. Posteriormente, os dois países reativaram o entendimento.