O Brasil retornou à lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas, conforme um levantamento divulgado pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (14/07). O estudo considera o número de crianças que não receberam a primeira dose da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Em 2024, o total de crianças "zero dose" no Brasil chegou a 229 mil, o que representa 16,8% da população dessa faixa etária na América Latina e no Caribe.
Com esse número, o Brasil ocupa a 17ª posição no ranking mundial, ficando atrás de países como Mianmar, Costa do Marfim e Camarões. Na América Latina, apenas o México tem mais crianças não vacinadas, com 341 mil. O levantamento revela que nove países concentram mais da metade das crianças não vacinadas do mundo: Nigéria, Índia, Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia, Indonésia, Iêmen, Afeganistão e Angola.
Apesar desse aumento no número de crianças não vacinadas, a cobertura geral da primeira dose da DTP no Brasil tem mostrado sinais de recuperação. Entre 2000 e 2012, o país atingiu taxas de cobertura próximas de 99%, mas a partir de 2019 houve uma queda significativa, com a cobertura caindo para 70%. Durante a pandemia de covid-19, em 2021, a taxa caiu para 68%, mas em 2024 subiu para 91%.
De acordo com o Unicef e a OMS, as principais causas para a falta de vacinação incluem dificuldades de acesso aos serviços de saúde, interrupções no fornecimento, conflitos, instabilidade e desinformação sobre vacinas. Cortes severos na ajuda internacional também têm ampliado as lacunas na cobertura vacinal, colocando milhões de crianças em risco.
Em nível global, mais de 14 milhões de crianças ainda não foram vacinadas, enquanto outras 20 milhões receberam apenas uma das três doses recomendadas da vacina DTP. Por outro lado, um aumento contínuo foi observado no número de crianças vacinadas com a tríplice viral, com um milhão de crianças a mais completando o esquema de vacinação em 2024.
A OMS destaca que, embora os avanços sejam modestos, eles representam progresso contínuo, mesmo diante dos desafios crescentes. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que os cortes na ajuda internacional e a desinformação sobre a segurança das vacinas podem comprometer décadas de progresso no combate a doenças preveníveis.