Seis meses após o último grande vazamento de petróleo em Lobitos, na costa norte do Peru, a cidade voltou a ser palco de outro desastre ambiental. Na segunda-feira, 7 de julho, a comunidade foi surpreendida por um novo vazamento de hidrocarbonetos no poço 383, perto de Lobitos. De acordo com a Petroperú, a estatal petrolífera, o incidente envolveu a liberação de fluidos compostos por água, petróleo bruto e lodo. A empresa indicou que houve uma violação na cerca de perímetro e na manipulação da válvula do poço. No entanto, moradores como Iván Vite, engenheiro e membro do Comitê Ambiental de Lobitos, duvidam da versão oficial, afirmando que, se a alegação fosse verdadeira, quem tivesse mexido no poço teria sido gravemente afetado, o que não ocorreu devido à vigilância intensa na área.
O vazamento de 7 de julho resultou em 5,46 barris de petróleo bruto (cerca de 229,32 galões) derramados em uma área de 6.425 metros quadrados, significativamente maior que o incidente anterior, que envolveu 0,95 barris (aproximadamente 39,9 galões). No entanto, os números frequentemente apresentados nos relatórios oficiais variam, o que agrava a desconfiança da população local. A falta de transparência é um problema persistente, já que a Agência de Supervisão de Energia e Mineração (Osinergmin) tem um relatório próprio sobre o incidente de dezembro, mas ele não é público devido às restrições legais.
A costa peruana, especialmente a região de Piura, onde Lobitos está localizada, é uma das mais afetadas por vazamentos de petróleo. Entre 1997 e 2023, o país registrou 1.462 vazamentos, com 609 ocorrendo na costa. A maior parte dos danos ocorre em áreas como Lobitos e Negritos, onde os vestígios de petróleo ainda são visíveis, especialmente nas praias e em locais como o Salar de Negritos. O petróleo, em algumas áreas, chega a borbulhar, e as manchas pretas na areia são constantes.
O caso mais grave dos últimos anos ocorreu em Ventanilla, em janeiro de 2022, quando um vazamento de 11.900 barris de petróleo afetou 713 hectares de mar e 180 hectares de litoral, causando danos irreparáveis à fauna e flora marinhas. Esse desastre também prejudicou 1.500 pescadores artesanais e afetou duas áreas protegidas, com o impacto sendo sentido por diversas espécies de invertebrados e mamíferos marinhos.
Apesar de não haver um impacto imediato catastrófico do vazamento de Lobitos em dezembro, pescadores locais relatam mortes de animais marinhos, como tartarugas e cavalos-marinhos, devido à contaminação do óleo. A falta de sistemas eficazes de alerta e a negligência das autoridades em agir preventivamente têm sido criticadas por ambientalistas e moradores locais.
A Petroperú compensou os pescadores de Lobitos com cartões de crédito para uma mercearia no valor equivalente a 1.500 soles (aproximadamente 360 euros), mas muitos ainda enfrentam a incerteza sobre o futuro da região, especialmente após o novo vazamento de julho. A cidade, marcada por décadas de exploração de petróleo e desastres ambientais, continua a ser um símbolo de negligência e abandono no litoral peruano, enquanto os moradores buscam respostas e soluções para um problema que parece não ter fim.