Representantes do setor produtivo do Amazonas demonstraram cautela ao comentar as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. Apesar da gravidade do anúncio, especialistas e autoridades acreditam que os efeitos sobre a Zona Franca de Manaus (ZFM) serão limitados e indiretos.
O superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, destacou que o posicionamento da autarquia segue a linha adotada pelo presidente Lula, que já declarou que usará a Lei da Reciprocidade contra os EUA. No entanto, Saraiva pontuou que as exportações do Polo Industrial de Manaus (PIM) para os Estados Unidos têm pouco peso no faturamento geral, o que limita os danos diretos. Para ele, o momento exige prudência e confiança na capacidade de negociação do governo federal.
O secretário estadual de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, apontou que até junho deste ano, o Amazonas exportou US$ 35,6 milhões aos EUA, o equivalente a 8,74% das vendas totais do estado. Em 2024, o valor exportado foi de US$ 99,7 milhões, o que representou 10,28% das exportações amazonenses. No entanto, o volume importado dos EUA foi significativamente maior: US$ 1,4 bilhão no ano passado e US$ 646,1 milhões apenas no primeiro semestre de 2025, representando 9,44% das importações locais.
Corrêa ressaltou que, diante desse desequilíbrio comercial, as tarifas não fazem sentido e terão pouco impacto direto no PIM. Ainda assim, ele recomendou que o Brasil adote uma postura cuidadosa nas negociações internacionais.
Por outro lado, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Silva, avaliou a medida como uma barreira significativa para produtos locais com maior valor agregado destinados aos EUA, o que poderá tornar esses itens menos competitivos. Ele acredita que, diante do novo cenário, empresas amazonenses precisarão buscar mercados alternativos na América Latina, Europa e Ásia, apesar das dificuldades logísticas e regulatórias que isso implica.
Segundo ele, se o Brasil reagir com medidas semelhantes, uma escalada na disputa comercial pode ocorrer, gerando ainda mais incertezas. Além disso, há o risco de valorização do dólar, o que encareceria insumos e maquinário importados, pressionando os custos de produção da indústria local.
O presidente da Associação Comercial do Amazonas (ACA), Bruno Pinheiro, observou que a ZFM pode ser impactada de maneira indireta, uma vez que sua produção se volta majoritariamente ao mercado interno. Ele teme que a queda na atividade econômica nacional reduza o consumo, o que afetaria a produção e os empregos na região.
Ralph Assayag, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL/Manaus), criticou a condução do Itamaraty, afirmando que o Brasil poderia ter buscado alternativas menos conflituosas. Para ele, o comércio local não sofrerá impactos significativos a não ser que o governo brasileiro adote tarifas semelhantes. Já a indústria, segundo Assayag, terá de encontrar novos mercados, o que é desafiador diante de contratos já estabelecidos com os EUA.
A economista Denise Kassama ponderou que as sobretaxas podem prejudicar mais os consumidores americanos do que o Brasil, uma vez que os EUA continuarão dependendo da importação de produtos brasileiros, como petróleo bruto, café e aço semiacabado. Mesmo assim, ela alertou para a possibilidade de encarecimento dos insumos devido à valorização do dólar, o que afetaria diretamente a Zona Franca, que depende fortemente de importações para sua produção.
No campo político, apenas quatro parlamentares amazonenses se pronunciaram publicamente sobre o tema. Amom Mandel (Cidadania) e Eduardo Braga (MDB) adotaram um discurso de moderação, evitando culpar diretamente os EUA ou o Brasil, enquanto os deputados Capitão Alberto Neto (PL) e Fausto Júnior (União) responsabilizaram o presidente Lula pela crise, citando alinhamentos do governo brasileiro com regimes autoritários.
Amom destacou que “Manaus não pode pagar por brigas ideológicas”, enquanto Braga defendeu uma resposta moderada, sem abrir mão dos interesses nacionais. Fausto Júnior acusou o governo de ser retaliado por apoiar países como Irã e Venezuela, e Alberto Neto atribuiu as tarifas a erros diplomáticos do presidente Lula em fóruns internacionais.
Apesar da preocupação e das críticas, o consenso entre autoridades, empresários e especialistas é que os impactos diretos das novas tarifas de Trump sobre a Zona Franca de Manaus serão limitados. Ainda assim, o cenário exige atenção, articulação e prudência nas ações do governo brasileiro.