11/12/2025 09:49:45

Acidente
13/07/2025 22:00:00

Petrobras e outras três empresas latino-americanas são acusadas por relatora da ONU de se 'beneficiarem do genocídio' em Gaza

Petrobras e outras três empresas latino-americanas são acusadas por relatora da ONU de se 'beneficiarem do genocídio' em Gaza

A relatora especial da ONU para os territórios palestinos, Francesca Albanese, acusou quatro empresas da América Latina de estarem ligadas economicamente à ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza. Entre elas está a brasileira Petrobras, citada em um relatório apresentado no início de julho ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Intitulado “Da economia de ocupação para a economia de genocídio”, o documento sustenta que empresas multinacionais estão lucrando com o conflito e contribuindo para a destruição da vida palestina. “Enquanto Gaza é devastada e a Cisjordânia sofre ataques crescentes, este relatório mostra por que o genocídio continua: porque é lucrativo”, diz o texto.

Além da Petrobras, são mencionadas a mexicana Orbia Advance Corporation e as multinacionais Drummond e Glencore, que atuam na exportação de carvão da Colômbia. A relatora argumenta que essas empresas fornecem insumos fundamentais, como petróleo e carvão, que abastecem a infraestrutura usada por Israel, inclusive pelo Exército, durante os ataques à região palestina.

Petrobras nega envolvimento

Em resposta à reportagem da BBC News Mundo, a Petrobras declarou que não vendeu “petróleo bruto nem óleo combustível para clientes israelenses durante o período mencionado no relatório”. A estatal brasileira acrescentou que deter participação majoritária nos campos de petróleo do país não implica, necessariamente, que suas exportações estejam ligadas a Israel.

A empresa também afirmou respeitar os direitos humanos e seguir princípios estabelecidos pela ONU, como o Pacto Global e os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos. O Estado brasileiro, sócio majoritário da Petrobras, também é citado no relatório, que observa que, apesar das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel, não houve proibição formal das exportações de petróleo do Brasil ao país.

Durante a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, Lula voltou a condenar a ofensiva israelense em Gaza, classificando-a como “genocídio” e denunciando o uso da fome como arma de guerra.

Carvão colombiano e a continuidade das exportações

A Glencore e a Drummond, responsáveis por parte significativa da exportação de carvão colombiano, também foram mencionadas por supostamente manterem envios para Israel, mesmo após o decreto do presidente colombiano Gustavo Petro, que suspendeu oficialmente esse comércio em junho de 2024.

A Drummond alegou ter seguido obrigações contratuais anteriores e que recebeu autorização oficial do governo colombiano para completar remessas já firmadas. Já a Glencore rejeitou totalmente as acusações, chamando o relatório da ONU de infundado e sem base legal.

Empresa mexicana é acusada de apoiar expansão israelense na Cisjordânia

A Orbia Advance Corporation, com sede na Cidade do México, também está no relatório, por meio de sua subsidiária Netafim, líder global em irrigação por gotejamento. A ONU afirma que a empresa contribui para a exploração dos recursos hídricos da Cisjordânia ocupada, em favor da expansão agrícola israelense.

Segundo Albanese, a Netafim desenvolveu sistemas de irrigação adaptados aos interesses expansionistas de Israel, permitindo o avanço de plantações israelenses em áreas onde os agricultores palestinos enfrentam severas restrições de acesso à água e à terra. A Orbia não se manifestou sobre as acusações até o momento da publicação.

Reações internacionais e críticas à relatora

O governo israelense classificou o relatório da ONU como “infundado” e afirmou que será “descartado pela história”. Os Estados Unidos, por sua vez, anunciaram sanções contra Francesca Albanese, alegando que suas declarações são marcadas por “antissemitismo” e “viés implacável contra Israel”.

A Anistia Internacional criticou a decisão dos EUA, defendendo a autonomia dos relatores especiais da ONU e reforçando que o trabalho de Albanese visa apenas garantir o cumprimento dos direitos humanos e do direito internacional.

Desde maio de 2022, Francesca Albanese atua como relatora independente da ONU, responsável por investigar abusos nos territórios palestinos ocupados. Ela tem defendido sanções internacionais contra Israel como forma de pressionar pelo fim dos ataques em Gaza.